A força ancestral Kujubim: a história de Francimar

Foto: Daniela Silva Huberty
Foto: Daniela Silva Huberty

Para Francimar Kujubim, ser indígena é ser tudo. Durante anos, entretanto, esse direito foi arrancado dela e de seu povo.

Por todos os lados, Francimar é conhecida como Mocinha. Vive em contexto urbano, no município de Costa Marques (RO). Conta que seu pai saiu cedo da aldeia. Trabalhando em seringa, conheceu sua mãe. Casaram e permaneceram na cidade.

Por anos, disseram que o povo Kujubim não existia mais.

— A gente não sabia que era indígena, porque meu pai não falava, ele tinha medo. Preferia falar que era boliviano.
Só em 2002 é que essa história começou a ser recontada.

— Fomos resgatando onde estava o povo Kujubim, alguns nas aldeias e outros na cidade — conta. — Só aí fomos ter a convivência com os parentes que moram dentro das aldeias. E estamos até hoje.
Naquele tempo, as matriarcas ainda eram vivas. Reuniram filhas e filhos, netas e netos, bisnetas e bisnetos do povo espalhado por vários municípios de Rondônia: Costa Marques, Seringueira e Guajará.

— Essa terra em que estamos não é a terra do povo Kujubim — disseram as matriarcas. — A terra do povo Kujubim é o Rio Cautário. Então lutem para nós termos a nossa terra de volta.
A partir desse dia, Francimar não perdeu mais a ligação com parentes das aldeias. Desde então, faz parte do movimento indígena e luta por sua terra. Hoje, é uma liderança do povo Kujubim.

— Já me perguntaram se no meu povo não tem homem. E eu digo: “tem, mas são as mulheres que estão à frente”. Esse é o desafio que nós, mulheres, enfrentamos. Porque nós também podemos. Não é só o homem que está na luta.
A FLD apoiou Francimar e o povo Kujubim por meio do projeto Moviracá: direito à terra indígena, que contribuiu para o fortalecimento do movimento e organizações indígenas em diversas regiões do país, na defesa de seus direitos constitucionais.

Para Francimar, as ações do Moviracá são gratificantes.

— O projeto trouxe bastante esperança para o povo. Trouxe esperança e união, não só para lutar pela demarcação, mas por saúde, por educação. É importante para o povo ver que não é só a Mocinha que vai ficar à frente, que o povo precisa estar comigo.

O Moviracá, segundo ela, fortaleceu ainda mais as mulheres Kujubim, mas não só. Fortaleceu o povo todo. Durante as atividades do projeto, tiveram a oportunidade de estar a sós. Para Francimar, isso foi muito importante.

— O povo fica muito tímido quando se encontra com os parceiros, então eles ficam quietinhos. Dessa vez, foi uma oportunidade de sermos os protagonistas, tendo nossa autonomia. Então, ali eles se sentiram à vontade. Os mais velhos trouxeram para nós, para as crianças e os jovens que estavam ali, trouxeram tantas coisas que a gente não vai deixar mais morrer.

Foto: Daniela Silva Huberty
Foto: Daniela Silva Huberty

O projeto Moviracá deu mais força e mais vida aos muitos sonhos de Francimar e do povo Kujubim.

— É um sonho sem fim, a história sem fim que a gente fala. Nós temos as nossas roupas tradicionais, temos a dança que estamos resgatando, a língua materna. Então tudo isso me fortaleceu e eu vi que fortaleceu o meu povo.

O mais importante, para Francimar, é que os povos indígenas não percam a esperança.

— Nós temos, sim, a nossa cultura e a nossa tradição. Não fique ali quietinho, vai. Parente, vai lá, pega, resgata a sua pintura, a sua dança, mostra para o povo. Mostra para a sociedade que você tem, que nós temos cultura.
Ser indígena é ser tudo — e isso não será esquecido. Nunca mais. Francimar não abre mão de seus direitos.

— É isso que nos fortalece. E nós não vamos ficar de braços cruzados.

Seu apoio pode fortalecer e dar ainda mais esperança para Francimar e para o povo Kujubim.

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Assessoria de Comunicação FLD
A Fundação Luterana de Diaconia (FLD) é uma organização da sociedade civil que defende o direito à existência com vida boa de toda a diversidade. Atua junto a grupos e comunidades promovendo e assessorando ações em agroecologia, cultura, economia solidária, justiça de gênero e étnico-racial, direitos humanos e terra e território.