Meias, sapatilhas e cabelo black: a história de Débora

No balé, ninguém era igual a Débora.
Era o início dos anos 2000 e ela tinha 10 anos. Morava no Aglomerado da Serra, maior favela de Belo Horizonte (MG). Soube das vagas para o Centro de Integração Martinho (CIM), projeto da Instituição Beneficente Martim Lutero (IBML), nascida na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte. O CIM oferece atividades para crianças e adolescentes, no contraturno da escola, como oficinas artísticas, culturais, esportivas e pedagógicas, dentro do Aglomerado da Serra.
A mãe sempre estimulou seus sonhos. No mesmo dia, Débora era a nova aluna do CIM. Participou de todas oficinas que podia. Fez aula de flauta, de percussão, de teatro, mas sua paixão sempre foi a dança.
Nos primeiros dias, não conseguia entender: por que precisava alisar o cabelo para dançar balé? Nem as sapatilhas nem as meias eram da cor da sua pele.
Sua mãe criava sete filhas e filhos. Trabalhava cedo e ganhava um único pão no serviço, mas precisava escolher entre saciar a própria fome ou a das crianças. Chegando em casa, dividia o pão.
Quando tinha 18 anos, Débora já entendia muito bem as dificuldades enfrentadas pela mãe. Queria mudar essa realidade. E, para além do talento, tinha vocação para ensinar.
Com a ajuda da sua professora, Débora começou a ensinar balé em escolas particulares, para crianças de 3 e 4 anos.
Mas o racismo nunca a abandonou. Precisava alisar o cabelo para ser aceita nos padrões definidos pelas escolas e pelo balé. Foram anos mutilando a identidade, até que decidiu cortar o cabelo.
— Como é que você vai fazer o coque — disse a diretora, quando a viu. — Assim não dá não. Tem que colocar pelo menos um brinco de pérolas.
A vontade por mudança pulsava cada vez mais alto. Percebeu que precisava abrir seu próprio espaço, onde pudesse acolher meninas iguais a ela, que pudessem usar o cabelo black como o dela.
Assim, nasceu o Espaço de Dança Débora Santos, na favela onde foi criada. Aos poucos, o espaço foi se fortalecendo, acolhendo mais crianças. Mas o racismo não parou por ali.
Há alguns anos, levava as alunas para participarem de um concurso. Ao chegar na porta, uma mulher a impediu:
— As babás precisam ficar do lado de fora.
Débora paralisou. Tentou responder que era a professora, mas a mulher não deu atenção. Foi preciso recorrer à coordenadora para que pudesse acompanhar as próprias alunas.
Nem sempre o racismo é tão declarado: está nos olhares, no silêncio, na obrigação de alisar o cabelo e nas vestimentas feitas só para uma cor de pele.
No balé, ninguém era igual a Débora. Graças ao CIM, projeto apoiadoorganização apoiada pela FLD, por meio do Programa de Pequenos Projetos, que promove ações para a defesa e promoção de direitos de crianças e adolescentes, ela se tornou bailarina e professora.

Esta história não seria a mesma sem a solidariedade. O poder de transformar vidas é o que faz de você alguém tão especial: no caminho de crianças como Débora, houve alguém igual a você.
Hoje, ela acolhe mais de 70 alunas na comunidade onde nasceu. A semente plantada lá atrás pelo CIM germinou. O seu apoio segue gerando frutos. Para ela, essa é a retribuição mais importante.
Quando vê as alunas dançando com o black solto, Débora sabe o quanto a oportunidade do CIM foi transformadora em sua vida e, consequentemente, na vida das meninas. E isso, graças à sua generosidade: fazendo uma doação agora para a FLD, você permite que, dia após dia, mais crianças realizem seus sonhos.
Na infância, Débora aprendeu a compartilhar o pão. Com o balé, alimenta o futuro de inúmeras vidas.
Hoje, mais mulheres negras podem empreender e contribuir para um mundo com mais representatividade. Graças a você, Débora tem a oportunidade de se enxergar em mais crianças.