Memórias debaixo d’água: a história de Rosângela

Foto: Gabriel Bortulini
Foto: Gabriel Bortulini

Em maio de 2024, a história de Rosângela foi levada pela enchente.

Ela faz da Economia Solidária a sua vida, numa caminhada que iniciou em 2004, nas feiras populares em São Leopoldo/RS. Um ano mais tarde, ajudou a criar o grupo Mãos Unidas, composto atualmente por nove mulheres e um homem, com o objetivo de gerar renda, por meio da produção de alimentos, artesanatos e prestação de serviços.

A FLD a acompanhou desde os primeiros passos, com o apoio a iniciativas comunitárias e coletivas de grupos de economia solidária. Hoje, Rosângela faz parte do Comitê Gestor da Rede de Comércio Justo e Solidário, criado em 2012.
Um dos marcos dessa história foi a criação da Associação dos Empreendimentos de Economia Solidária de São Leopoldo (AESOL), em 2015. Atualmente, ela reúne mais de 70 pessoas — e famílias — de oito diferentes grupos. São empreendimentos majoritariamente informais, com trabalhos em diversos segmentos, como artesanato, alimentação, artes visuais, fotografia e música.
Essa rede colaborativa e de união resistiu a incontáveis obstáculos, mas nada se comparou à enchente de maio de 2024.

Em meio ao rápido avanço das águas, Rosângela se esforçava para cuidar da família, da casa e do sonho de mais de 20 anos de economia solidária. Todo o equipamento de cozinha industrial da AESOL estava lá.
Quando a água invadiu a casa, o grupo fez uma força-tarefa para erguer os equipamentos coletivos. Ninguém pensou em tirá-los de lá, porque a água começava a recuar. Como muita gente, quem estava ali acreditava que logo tudo estaria seco. Mas o dique transbordou e não houve tempo para mais nada. Ou quase: Rosângela correu para salvar suas duas cachorrinhas.

As famílias se acumulavam de casa em casa, em plena fuga e desespero, conforme a enchente tomava proporções maiores. Quando a água alcançou o segundo piso da casa da mãe de Rosângela, ela sabia: os esforços de 20 anos de economia solidária tinham sido perdidos.

Sua casa ficou totalmente inundada por semanas. Foram longos dias de espera, longe de seu lar, até que as águas baixassem e ela pudesse retornar para ver o tamanho do estrago. A casa estava irreconhecível.

Reuniu coragem e decidiu entrar, mas sequer conseguia abrir a maioria das portas e janelas, inchadas pelos dias submersos. Perdeu móveis, teto e histórias. A única janela que conseguiu abrir foi a da filha mais nova. A menina correu para recuperar o que fosse possível: “as coisinhas dela, os materiais de desenho que ela tanto gostava”.

Rosângela desabou. Eram bens materiais, mas apenas? Perdeu objetos que contavam a sua história. Coisas que ela e seu grupo levaram 20 anos para conquistar: lutando, dia após dia, para parcelar, para pagar.

Desde então, Rosângela não tem casa.

Viveu dias só com a roupa do corpo, meses de um lugar a outro, tirando do que não tinha para ajudar quem estivesse precisando.

Ao longo de 2024, graças ao apoio de pessoas solidárias como você, a FLD auxiliou as vítimas das enchentes com cestas básicas e acompanhamento psicossocial. A ajuda humanitária prestada pela FLD valoriza o protagonismo das pessoas, transferindo recursos diretamente para as comunidades afetadas. Assim, lideranças locais, como a Rosângela, puderam organizar cestas com produtos necessários para cada comunidade, comprando de pequenos negócios locais e familiares: portanto, as cestas eram diferentes em cada território e beneficiaram tanto as pessoas que as receberam como quem forneceu os produtos.

Mesmo sem um lar, Rosângela persistiu. Foi uma das lideranças que localizou e identificou as diversas necessidades das famílias da AESOL, afetadas pelas enchentes. Em meio à destruição, ela ajudou a montar e a distribuir cestas básicas, que só foram possíveis graças à sua doação.

— Como dizem, eu consigo fazer multiplicar.

Hoje, em meados de 2025, a casa da Rosângela está condenada e ninguém mais poderá morar sob aquele teto de tantas memórias. Apesar disso, a esperança ainda a move. Aquele é o seu canto, o seu lugar. Mesmo que as paredes não sejam as mesmas, ela sonha, insistentemente, em retornar, em reconstruí-la.

Mas como reconstruir quando toda a sua fonte de renda foi engolida pelas águas?

Foto: Gabriel Bortulini
Foto: Gabriel Bortulini

Os grupos da AESOL precisavam retomar as atividades. Para isso, tinham que recuperar o básico: a forma de bolo, o cortador de biscoito, a fita métrica, a cola quente, a tesoura.

Graças a você, isso foi possível. Por conta de sua doação, a FLD, por meio do seu Programa de Pequenos Projetos, pôde apoiar a AESOL e outros grupos com novos materiais, ferramentas e insumos.

Agora, a sua ajuda é mais fundamental do que nunca. A cada dia, a crise climática se agrava, pondo a vida de mais pessoas em risco. Mas a sua doação faz toda a diferença. Com o seu apoio, a FLD pode amparar ainda mais famílias, por meio do Fundo de Emergência para ajuda humanitária.

A sua doação permite que a FLD auxilie quem mais precisa, em meio a emergências e durante a recuperação: com a distribuição de cestas básicas, compra de insumos e equipamentos necessários para que pessoas como Rosângela possam se manter trabalhando e implementem tecnologias que aumentam a resiliência das comunidades.

A Economia Solidária é a vida de Rosângela. Agora, a sua solidariedade pode permitir que ela e milhares de pessoas reconstruam suas histórias.

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Assessoria de Comunicação FLD
A Fundação Luterana de Diaconia (FLD) é uma organização da sociedade civil que defende o direito à existência com vida boa de toda a diversidade. Atua junto a grupos e comunidades promovendo e assessorando ações em agroecologia, cultura, economia solidária, justiça de gênero e étnico-racial, direitos humanos e terra e território.