O sonho de um mundo mais limpo: a história de Regina

Regina Aparecida Lima da Silva sorri como quem sonha. Preenche a tela.
Quem a enxerga de rosto aberto e olhos apertados, numa timidez bem humorada, talvez não imagine os anos de trabalho por trás do riso. Nasceu em Lages (SC), mas deixou a cidade ainda com 14 anos, junto com a mãe e com o pai, rumo ao Rio Grande do Sul.
Regina era apenas adolescente, mas a necessidade não costuma ter paciência. Então precisou trabalhar: primeiro como empregada doméstica, mais tarde em indústrias e fábricas de calçados.
Poucos anos depois, tornou-se mãe.
Com quatro crianças, o trabalho doméstico ocupou sua rotina. Já não havia tempo para os serviços fora de casa.
— Fazia só uns pulos quando alguém me pedia, como arte e costura e consertos de roupas — relata.
As crianças cresceram e Regina notava as mulheres ao seu redor empreendendo e ocupando espaços de liderança.
Em São Leopoldo (RS), onde vive atualmente, acompanhou o nascimento da Cooperativa Mundo Mais Limpo, empreendimento da Economia Solidária, que transforma resíduo de óleo de cozinha em sabão biodegradável, produtos de limpeza e velas.
Antes de 2015, no entanto, Regina via a cooperativa apenas de longe: até que recebeu o convite inusitado de Josiane Borges, na época tesoureira do empreendimento. As integrantes da cooperativa precisavam participar de uma capacitação da Economia Solidária do município, mas nenhuma delas tinha disponibilidade. A participação era importante, porque, em troca, receberiam equipamentos para os seus empreendimentos. A Mundo Mais Limpo precisava de máquina para fazer sabão.
Sem saber a quem recorrer, Josiane perguntou se Regina poderia representar a cooperativa naquele momento.
— E eu fui — ela diz. — Foi assim que entrei na cooperativa.
Com um gesto de solidariedade para com suas amigas, Regina ingressou e conheceu, na prática, a Economia Solidária.
— Foi um momento riquíssimo — lembra. — Cada dia, procuro entender mais, conhecer mais a Economia Solidária.
No curso, a gente aprendia como lidar com as outras pessoas, sabe? Porque era te ensinar a fazer o trabalho, te capacitar para o trabalho, mas também te capacitar para compreender o grupo.
A Economia Solidária já soma uma década na vida de Regina — não sem desafios. A Mundo Mais Limpo chegou a perder o espaço de produção, cedido pela prefeitura de São Leopoldo, além de passar tempos sem energia elétrica, porque roubaram a fiação.
Nessa época, a cooperativa precisava produzir sabão em um balde, dando um jeito em meio aos empecilhos. Não havia renda suficiente para recuperar a eletricidade.
— Eu pude ver a evolução da Mundo Mais Limpo desde que eu cheguei aqui. A FLD ajudou muito, nos fortaleceu, fez com que a gente pudesse alcançar mais. Quando a gente conseguiu o primeiro projeto pela FLD, a gente ficou “uau, conseguimos, deu certo!”. Foi muito importante, porque a gente precisava reformar tudo.
Com o apoio da FLD, por meio do Programa de Pequenos Projetos e da Rede de Comércio Justo e Solidário, a situação começou a melhorar.
— Conseguimos uma advogada e tivemos a possibilidade de melhorar o prédio e a estrutura. Colocamos luz e fomos crescendo, melhorando e avançando muito.
Um dos maiores desafios enfrentados pela cooperativa foi a pandemia. Regina e suas colegas acreditavam que ficariam paradas, sem renda alguma.
— Mas nós ficamos só dois dias em casa, porque os nossos dias de trabalho foram dobrados naquele momento crucial. A gente passou a trabalhar a semana inteira graças à FLD, que foi nos apoiando, adquirindo nossos produtos e distribuindo para os demais componentes da rede.

O companheirismo de Regina abriu espaço para uma nova vida desde 2015. Hoje, ela sonha com uma cooperativa ainda maior, que acolha mais mulheres e chegue em mais lugares, dando a oportunidade de crescimento, de empoderamento e protagonismo feminino, gerando renda e sustento a mais famílias.
— Não é um sonho só meu, mas de todas nossas componentes — reforça, antes de abrir o sorriso de agradecimento de quem foi acolhida e hoje acolhe com o mesmo aconchego, em busca de um mundo mais solidário e coletivo.
Regina sorri como quem sonha por muitas.
— Sonhamos — ela diz.