Unidades de Referência servem como modelo para serem replicados junto a outros grupos
Para atender ao desafio de fortalecer a produção e a comercialização de alimentos agroecológicos, a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e os cinco núcleos do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) firmaram com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com a Fundação Banco do Brasil (FBB) – Programa Ecoforte o Projeto Rede CAPA de Agroecologia: Semeando o Bem Viver. O projeto está contribuindo na geração de renda, preservação ambiental, manutenção da socio biodiversidade e de genéticas tradicionais, abertura de novos espaços de comercialização, transição agroecológica e estruturação de Unidades de Referência (URs).
O projeto oportunizou instalar na região Sul do RS, 18 URs nas áreas de sistemas agroflorestais (SAFs), quintais agroecológicos, panificados, sementes crioulas, feiras agroecológicas e minimamente processados, além de acompanhar famílias no processo de transição agroecológica de suas propriedades. Zamir Cardoso, técnico da FLD-CAPA Pelotas que acompanha as atividades do projeto, explica que mesmo com ele sendo desenvolvido durante a pandemia, os trabalhos coletivos puderam acontecer. “Mesmo o projeto acontecendo durante a pandemia, conseguimos avançar em trabalhos coletivos e também na instalação das URs. Os avanços podem ser observados no desenvolvimento das atividades coletivas de formação, com a participação das famílias atendidas, na consolidação das URs de produção”, explica.
As UR’s, junto com outras ações, visam avançar na produção, beneficiamento e comercialização de produtos agroecológicos, atendendo a demandas históricas de grupos que necessitam de apoio para melhorar as condições, muitas vezes, precárias de trabalho, além de dar suporte também para questões de legalização. De acordo com Roni Bonow, da Coordenação Ampliada da FLD-CAPA Pelotas, esse apoio é fundamental para atender necessidades antigas de alguns grupos. “A Rede CAPA de Agroecologia atua na região Sul do Brasil em territórios com grande diversidade cultural e com diferentes povos e comunidades. Através da agroecologia esta rede viabiliza a permanência das famílias e suas organizações com o fortalecimento da segurança alimentar, conservação da biodiversidade e na geração de renda através da produção e processamento de alimentos”, explica.
Zamir destaca também que outro aspecto importante do projeto é a tomada de decisão, que acontece de forma coletiva, onde as famílias beneficiadas tem papel fundamental nas escolhas de equipamentos e espécies a serem instaladas nas URs. “Assim, podemos abranger para além das questões de produção, incluindo aspectos culturais e religiosos para as comunidades kilombolas e indígenas”, conclui.
Dentro do projeto, os avanços e a instalação das URs de panificados e as feiras merecem destaque. Nas URs de panificados há duplo impacto para as famílias beneficiadas. O projeto contribuiu na questão da diminuição da penosidade do trabalho e também no aumento da produção e consequentemente no aumento da renda. Essas URs são compostas, principalmente, por grupos de mulheres que já tinham alguma iniciativa na área, no entanto, com processos bastante manuais, baixos volumes de produção e envolvendo muito esforço físico. “Com o projeto foi possível melhorar as estruturas de produção, organiza-las melhor e com isso ter um volume e diversidade maior de produtos”, acrescenta Zamir.
Márcia Scheer, agricultora que integra a Associação Regional dos Produtores Agroecologistas da Região Sul – Arpasul de Morro Redondo, também foi beneficiada com o projeto. Assim como ela, outras mulheres agricultoras da Associação, que há 25 anos industrializam e comercializam a sua produção nas feiras ecológicas em agroindústrias informais e em condições precárias, terão aporte em equipamentos, tecnologias e suporte para legalização, atendendo uma demanda histórica dos grupos de mulheres.
O projeto aportou para o grupo a que Márcia pertence diversos equipamentos para a sua agroindústria de panificados, aumentando a produção e gerando trabalho e renda para outras famílias. “Produzir a gente sabe, mas precisamos de apoio para projetos e equipamentos para também permitir que as pessoas jovens se mantenham nas propriedades. Com a agroindústria é possível agregar valor aos nossos produtos, ter uma oferta maior e ainda aproveitar melhor as frutas e os produtos disponíveis”, acrescenta.
A Arpasul tem histórico de feiras na região há 25 anos e está recebendo três unidades de referência com panificados em Morro Redondo, Pelotas e Arroio do Padre/RS.
Outro destaque fica por conta dos dois novos espaços de comercialização, que já estão concretizados no município de Pelotas. Um ponto de feira foi inaugurado em janeiro, dentro de um bairro planejado e o segundo em maio, sendo a primeira feira agroecológica kilombola do RS, chamada Feira Akotirene. São espaços importantes para a geração de renda das famílias e na construção da sua autonomia financeira.
Para o ano de 2022 há a previsão de inauguração de um espaço de feira pedagógica da juventude da Escola Família Agrícola EFASUL em Canguçu. O espaço vai cumprir um papel importante na formação curricular dos alunos, na organização dos produtos, planejamento produtivo e comercialização.
A adoção de técnicas agroecológicas, métodos inovadores e estratégias de participação do público beneficiário ao longo do projeto oferecem condições para a construção do conhecimento agroecológico e bases para a produção que alia promoção social e econômica e a preservação ambiental. Assim, as URs em agroecologia podem ser replicadas e instaladas junto a demais públicos.