Projeto busca suprir necessidades relacionadas à produção de alimentos para garantir segurança alimentar das famílias
A Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e os cinco núcleos do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) estão desenvolvendo, junto a famílias kilombolas, indígenas, assentadas da reforma agrária e de agricultoras e agricultores familiares, o projeto “Rede CAPA de agroecologia: Semeando o bem viver”, desenvolvido no âmbito do Programa Ecoforte, apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Fundação Banco do Brasil (FBB). O projeto busca responder ao desafio do fortalecimento de sua atuação, com ampliação da produção e comercialização de alimentos agroecológicos, a partir da implantação de unidades de referência, da gestão do conhecimento, por meio de processos de formação e planejamento participativo, e da incidência pública.
Na FLD-CAPA Pelotas, parte das atividades contavam com a instalação de quatro sistemas agroflorestais (SAFs) e quatro quintais agroecológicos, distribuídos em quatro comunidades kilombolas e uma comunidade indígena. A comunidade indígena Tekoa Porã, do município de Barra do Ribeiro, recebeu um quintal para ser uma unidade pedagógica na escola bilíngue da aldeia e um SAF que vai beneficiar a comunidade para desenvolver trabalhos em forma de mutirão e na garantia de alimentos para fortalecer a segurança alimentar na aldeia.
A comunidade kilombola Monjolo, em São Lourenço do Sul, recebeu um SAF no ano de 2021, assim como o kilombo Serrinha do Cristal, no município de Cristal. A Comunidade Tio Dô, em Santana da Boa Vista, recebeu dois quintais agroecológicos e o Kilombo do Algodão, em Pelotas, recebeu um quintal e um SAF. O plantio das árvores e mudas foi feito no modelo de mutirão pelas famílias das comunidades tendo um caráter pedagógico para o desenvolvimento de práticas agrícolas, servindo também de modelo para as demais famílias.
De acordo com Nilo Dias, uma das lideranças da comunidade Kilombola do Algodão que recebeu na sua propriedade o SAF, a comunidade tem atualmente 106 famílias que plantam para a sua subsistência, trabalham eventualmente nas propriedades das famílias vizinhas e, desde maio, mantêm uma feira exclusivamente feita por kilombolas. “O SAF foi implantado aqui na comunidade em forma de mutirão, que é o sistema que utilizamos para realizar muitas atividades. Ele vai beneficiar a todas as pessoas e um dos aspectos mais importantes é que a própria comunidade pôde escolher as mudas que gostariam de ter, não foi uma decisão que veio de cima para baixo”, explica Nilo.
Os sistemas agroflorestais são uma prática bastante utilizada nos sistemas de produção agroecológicos, pois consorciam plantas florestais, exóticas, nativas e cultivos anuais e que tem um papel fundamental para o desenvolvimento de algumas espécies, evitando a entrada de doenças, melhorando as condições do solo, privilegiando a cooperação entre plantas e melhorando o aproveitamento do espaço físico disponível. É uma prática regenerativa que vem sendo utilizada há muitos anos, principalmente pelas aldeias indígenas. Mais recentemente, a prática teve uma crescente entre as famílias agricultoras no sentido de trabalhar e produzir de acordo com a natureza, para incorporar conceitos ecológicos no manejo do sistema em vez de apenas explorar, agregando as características de uma agricultura sintrópica.
Assim, os sistemas agroflorestais, desde a sua concepção, foram discutidos de forma participativa, com o envolvimento das comunidades. Foram realizadas rodas de conversa para planejar o espaço de implantação e também as espécies a serem colocadas, levando em consideração as espécies que tem valor cultural e da ancestralidade para essas comunidades. “A importância e o diferencial deste projeto é que ele conversa com a realidade das comunidades e o que é entregue dialoga com as necessidades das famílias”, acrescenta Zamir Cardoso, da equipe técnica do Núcleo Pelotas, que assessora as atividades realizadas.
Os SAFs e quintais tem sido URs importantes para a consolidação de ecossistemas sustentáveis e regenerativos, que vão promover a segurança alimentar das famílias e em alguns casos a geração de renda para os mesmos. Com os SAFs há uma grande diversidade de frutíferas que auxiliam na alimentação saudável e balanceada para as famílias, com frutas diversas e produção escalonada durante o ano, sendo fundamental para a composição nutricional da alimentação das comunidades.