Durante a ditadura militar chilena (1973 a 1990), muitas denúncias sobre os problemas políticos e sociais enfrentados no país eram feitas por mulheres por meio de arpilleras. Trata-se de uma técnica têxtil elaborada em pano rústico, geralmente cânhamo ou linho grosso, proveniente de sacos de farinha ou batatas, com linhas, objetos vários e retalhos de tecidos.
Alguns desses trabalhos estão sendo exibidos no Brasil em uma exposição itinerante, chamada Arpilleras da Resistência Política Chilena. Ela está passando por cinco diferentes cidades, a partir de março, sempre com entrada gratuita, graças ao patrocínio obtido da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça por meio do edital “Marcas da Memória”.
O trabalho já esteve em Brasília, na Biblioteca Nacional, e agora está em Porto Alegre (RS), no Memorial do Rio Grande do Sul, onde fica até 17 de abril. Em maio, de 7 a 14 de maio, será a vez dos curitibanos conhecerem as arpilleras, no Memorial de Curitiba (PR). Em Belo Horizonte (MG), no Centro Cultural UFMG, a exposição será realizada de 18 a 24 de maio. Finalmente a exposição encerrará a sua itinerancia na cidade de Rio de Janeiro, de 29 de maio a 5 de junho, no Arquivo Nacional. Durante a exposição estão sendo promovidas oficinas gratuitas para ensinar aos participantes a técnica.
Clara Politi, produtora da exposição, conta que as arpilleras desta coleção nasceram das mãos de mulheres que estiveram presas, ou cujos maridos ou filhos tinham sido presos, torturados ou assassinados durante a ditadura. Inicialmente uma obra de artesanato popular, estas peças acabaram tendo não só valor artístico como serviram para ajudar financeiramente estas mulheres que se uniam em grupos de trabalho, comunidades artesãs ou entidades da sociedade civil . “Desta maneira, além da tentativa de denunciar dentro do próprio país e também para os estrangeiros as situações de falta de liberdade e privações pelas quais estavam passando essas mulheres conseguiam reforçar o sustento da família com o que elas confeccionavam”, explica a produtora.
A exposição traz cerca de 30 arpilleras, que têm em média 60cm x 60 cm, produzidas durante a ditadura. Algumas delas ilustram, por exemplo, a determinação das mulheres diante da repressão policial às suas reivindicações (Hornos de Lonquén, de 1979), o senso de comunidade e a força política e social que elas conseguiam manter nesse cenário (Corte de Agua, de 1980) e o terrorismo praticados pelos soldados carabineiros chilenos, a polícia local (Represión a Vendedores Ambulantes, de 1983).
“Nas arpilleras que formam esta exposição está escrita a própria história social de um grupo de mulheres que, de alguma fora, sofreram torturas e discriminações típicas de um regime ditatorial e que puderam encontrar o caminho para expressar suas emoções e também denunciar o que ocorria nos cárceres chilenos”, completa Clara.
As arpilleras que serão exibidas no Brasil pertencem à pesquisadora chilena Roberta Bacic, curadora da exposição. Nascida em 1949, ela já montou mais de 30 mostras pelo mundo, em países como Japão, Estados Unidos e França. A primeira delas foi realizada em 2008, na Irlanda do Norte, onde a curadora reside desde 2004.
O catálogo da exposição está disponível abaixo, para download. Para conhecer mais sobre o projeto, acesse http://arpillerasdaresistencia.wordpress.com
Local: Memorial do Rio Grande do Sul, Rua Sete de Setembro, 1020 – Praça da Alfândega – Centro Histórico
Data: Até o dia 17 de abril
Terça à sábado: das 10 às 18 horas (nas segundas-feiras, o Memorial está fechado)
Domingo: 13 às 17h
Telefone: (51) 3224-7210
Entrada franca.