A Política de Justiça de Gênero da FLD, que vem sendo desenvolvida nos últimos dois anos, foi aprovada por unanimidade pelas conselheiras e conselheiros durante a Assembleia Geral deste ano, realizada nos dias 27 e 28 de março, em São Leopoldo (RS). O processo de construção do documento teve inicio na reflexão de um grupo de mulheres surgido na FLD em 2012, formado por representantes de parcerias estratégicas da FLD, integrantes da Secretaria Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e da própria equipe. Depois de uma série de encontros, as mulheres apresentaram para a Diretoria Executiva uma proposta coletiva de elaboração de uma política de gênero.
A proposta teve como base a trajetória da FLD e seus apoios a grupos atuantes na defesa dos direitos das mulheres, sua função diaconal transformadora e as demandas das pessoas que vivem e fazem a organização diariamente. Também inspirou-se em organizações como a Federação Luterana Mundial – que teve sua política aprovada em 2013 – e a Aliança ACT – que contempla “gênero como um eixo transversal em todas as dimensões de sua visão de desenvolvimento”. Desta forma, na Assembleia Geral de 2013, cujo tema central foi a questão de gênero, constitui-se um grupo de trabalho para pensar o documento, trazido para apreciação no último dia 28.
A política justifica-se tanto pelos desafios internos que a FLD tem diante de si, em termos de igualdade de mulheres e homens, desde o campo da governança, passando pelo campo da gestão e o campo da execução, até os grandes desafios na sociedade, que envolvem a reduzida participação das mulheres nos espaços e processos de tomada de decisões e altos índices de violência doméstica e de gênero.
No dia 28, durante discussão sobre o documento, antes de este ser levado para a plenária para ser posto em votação, conselheiras e conselheiros apontaram com um dos destaques o fato de a FLD ter começado “na sua própria casa”, ao fazer um diagnóstico inicial a partir de documentos normativos (como estes contemplam ou não contemplam a justiça de gênero), da linguagem (é inclusiva, não é inclusiva) e das relações na própria equipe. “Não é apenas papel, não é apenas discurso, mas é realidade”.
Igreja da Suécia
A apresentação e discussão sobre a Política de Justiça de Gênero da FLD foi precedida pela apresentação do processo de elaboração e aprovação da política da Igreja da Suécia, feita pela pastora Adriana Gastellu. Além de dados observados em pesquisas internacionais sobre o papel e o espaço das mulheres na sociedade, a reflexão também foi feita a partir do ponto de vista teológico.
O ideal é um mundo de reconciliação, reconciliado, que dá a possibilidade de se ter uma vida plena. Equidade significa direitos iguais, oportunidades e obrigações iguais, para homens e mulheres. “Política de justiça de gênero não é apenas uma questão das mulheres”, lembrou Gastellu. “Mas é bom lembrar que nenhuma menina nasce predestinada a lavar pratos. Isso é uma construção social, que deve ser questionada em um contexto de justiça.” E justiça é um termo central na tradição cristão. “No antigo testamento, a palavra justiça aparece mais de 100 vezes. No novo testamento, mais de 50 vezes”, lembrou a palestrante.
Resumo da Política de Justiça de Gênero da FLD
Sobre a política da FLD, é “um documento normativo e estratégico que implementa a justiça de gênero como critério transversal para todas as dimensões de trabalho da FLD e para todos os projetos por ela fomentados ou executados diariamente. Visa promover o exercício de relações de gênero justas e igualitárias, reconhecendo nelas um potencial transformador das relações sociais. Visualiza oportunizar a valorização igualitária de mulheres e de homens e gerar o acesso de mulheres e de homens de modo equilibrado aos espaços de poder e de governança da instituição e de suas parceiras. A Política de Justiça de Gênero objetiva, através de sua consecução, transformar as relações sociais na sociedade brasileira e ser estímulo e orientação também para seus parceiros estratégicos, organizações apoiadas e mesmo à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), igreja com a qual partilha identidade teológica e, por meio desta, fomentar o desenvolvimento de relações de gênero justas no meio ecumênico brasileiro.”