O olhar de Cleci Lopes da Silva, moradora da periferia da cidade de Iraí, região norte do Rio Grande do Sul, retrata o de muitas pessoas que perderam tudo com a inundação que atingiu dezenas de municípios no interior de Santa Catarina e do RS. Abrigada na casa da mãe com o marido, Luiz Osvaldo Fösch, e as três filhas, Ediane, 15, Edimara, 10, e Ediana, 10 meses, Cleci ainda não consegue acreditar na rapidez do desastre: em poucas horas, a água do rio do Mel, alimentada pelo grande volume de água vinda do Rio Uruguai, havia engolido tudo. “Conseguimos tirar algumas coisas, mas a maioria ficou para trás, como os sofás da sala”, disse. “Tentamos tirar pela janela, mas eram muito grandes. Deixamos para trás, na confiança que a casa aguentaria”. Não aconteceu.
O relato foi feito durante a visita das representantes da FLD, a secretária executiva Cibele Kuss, a coordenadora programática, Marilu Menezes, e a assessora de Comunicação, Susanne Buchweitz, à região, na terça-feira, dia 8 de julho.
Acompanhadas pelo pastor sinodal do Sínodo Uruguai (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB), Ervin Barg, pela pastora Ettiene Cibele Mittanck e pelo vice-prefeito Edson Borges do Canto, e mais tarde pela pastora Clarise Ilaine Wagner Holzschuh, pelo assessor de Formação e Articulação da PPL, catequista Nilo Bidone Kolling, e Edela Kolling, a visita começou no salão da Comunidade Evangélica de Irai, que está servindo de ponto de recebimento, organização e distribuição de alimentos, produtos de limpeza, colchões, cobertores e roupas. O levantamento das pessoas que recebem as doações é realizado pela prefeitura e a coordenação da distribuição é feita pelo presidente da comunidade luterana, Gilberto Nienow, que conta com o auxílio de voluntárias e voluntários, como os adolescentes do Grupo de Escoteiros Coroados: “faz bem ajudar”, afirmaram Leonardo Camargo, 15, Mateus Ganzir, 15, João Miron, 15, e Gabriel Zankoski, 16.
“A solidariedade tem sido impressionante, e as necessidades mais urgentes estão sendo atendidas”, disse o vice-prefeito. “O grande desafio agora é a reconstrução das casas. Para isso, precisamos pensar em prevenção, uma vez que esta é a terceira cheia em um ano e meio”. A expectativa, no entanto, é de um processo longo, que inclui a busca de recursos federais, a identificação das áreas de risco, a aquisição de outro espaço, a construção das habitações, a retirada e realocação das famílias.
E agora?
“Trabalhamos, nos dedicamos, muitas vezes abrimos mão da nossa vida pessoal, para perder tudo em poucas horas”, falou, emocionada, Irmgard Jahnke, dona da Pousada Recanto das Águas no Balneário de Pratas, município de São Carlos, ao lado do Rio Uruguai. “Com a chuva e a abertura das comportas da barragem Águas do Chapecó, a água subiu muito, muito rápido. Como isso pode acontecer? A promessa era que nunca mais teríamos cheias com a construção da barragem. Agora, como fica?”
Alojadas e alojados no que restou dos quartos da pousada, residem diversas famílias de haitianas e haitianos, que fogem do difícil contexto de reconstrução pós-terremoto do seu país e vêm ao Brasil em busca de trabalho. Na região, trabalham basicamente em frigoríficos. As dificuldades e falta de oportunidades para aprender o português, os choques culturais e muitas vezes a desconfiança da comunidade local isolam mulheres, homens e crianças, tornando situações como a cheia ainda mais difíceis do ponto de vista psicossocial e econômico.
A vida é o mais importante
No município de Águas de Chapecó, uma das visitas foi ao casal Ilda e Egon Tauchert. Como muitas outras pessoas, Egon está ajudando no transporte de móveis e pertences de vizinhas e vizinhos para lugares seguros e também na distribuição de alimentos. Ele afirmou: “não podemos perder a esperança, tristeza não ajuda nessa hora. Nossa situação é complicada, mas temos condições de nos recuperar. Nossa vida segue. No entanto, fiquei sensibilizado com as pessoas que moram ao lado do rio, especialmente as mais pobres.
A vida é o mais importante. “Precisamos olhar para o lado e ajudar quem mais precisa. Todas as pessoas têm direito de receber ajuda, mas há quem perdeu tudo. Esses sim precisam começar do zero, mas do zero mesmo.” As palavras e ações de Egon, membro da IECLB, testemunham a diaconia transformadora e indicam a importância das pessoas afetadas participarem de forma protagonista do processo de reconstrução de suas comunidades.
Campanha
Para apoiar as necessidades urgentes de reconstrução das áreas atingidas, a FLD e a IECLB promovem uma campanha de arrecadação de recursos financeiros. As ofertas podem ser depositadas na conta do Fundo de Emergências da FLD e da IECLB:
Fundação Luterana de Diaconia
Banco do Brasil
Conta corrente – 14115-1
Agência 0010-8
CNPJ – 04358174/0001-81
Favor informar valores e origem dos valores para contabil.fld@gmail.com.br
IECLB
Banco do Brasil
Conta corrente – 60000-8
Agência – 0010-8
CNPJ 92926864/0001-57
Favor informar valores e origem dos valores para secretariageral@ieclb.org.br
Capacitação
Após as visitas, foi realizada uma reunião em Palmitos (SC) para apresentar o trabalho da FLD em Emergências, partilhar informações e impressões sobre o cenário provocado pelas inundações e pensar em alguns primeiros passos de trabalho conjunto. Estiveram presentes o pastor sinodal, ministros e ministras, lideranças, integrantes do Conselho de Formação e Diaconia do Sínodo e da Pastoral Popular Luterana (PPL/IECLB), representantes do Movimento de Atingidos pelas Barragens e de Pescadores, da prefeitura e da Defesa Civil do município.
Além da campanha de arrecadação de recursos, foi identificada a necessidade de capacitação na área de atuação em contextos de emergências. Para dar início ao processo, o Sínodo Uruguai e a FLD estarão promovendo um seminário de capacitação em emergências, em agosto, com enfoque na metodologia de Apoio Psicossocial de Base Comunitária e no Mecanismo de Atuação em Emergências da IECLB. O seminário prevê a participação de representantes das 19 paróquias do sínodo, da Defesa Civil, Prefeituras, Igrejas e organizações da sociedade civil.