A Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ) é normalmente lembrada pela disputa entre facções pelo controle do tráfico de drogas. Fruto da extrema desigualdade social e da falta de alternativas econômicas, a violência costuma ser a tônica nas comunidades da região. Para combater esta realidade, o projeto Rede Sócio Cultural da Zona Oeste une grupos e desenvolve atividades que valorizam as diferenças na luta pela garantia de direitos.
Em 2014, o projeto Rede Sócio Cultural da Zona Oeste, que integra diversos grupos que trabalham com juventudes – apoiado pela FLD por meio do Programa de Pequenos Projetos – obteve novos resultados, após insistentes iniciativas que visam à transformação da realidade e à promoção da dignidade das moradoras e dos moradores da região.
Exemplo disso foi a intervenção cultural da rede – por meio do grafite – junto ao Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Novo Degase), na instituição de atendimento João Luiz Alves, em setembro. O Degase é o órgão do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), responsável pela execução das medidas socioeducativas aplicadas pelo Poder Judiciário a jovens em conflito com a lei. Diversas iniciativas do Novo Degase com entidades e organizações da sociedade civil buscam diminuir o ingresso e a reincidência de jovens no sistema.
Como desdobramento da intervenção, a TV Degase e agentes do sistema socioeducativo fizeram uma visita à Favela do Sapo, no bairro de Senador Camará, algo inédito. “Ali, conheceram o trabalho do Arte em Conjunto e a proposta da Rede Sócio Cultural da Zona Oeste”, contou o coordenador do grupo e um dos coordenadores da rede, o educador social Mário Luiz Gomes. “Surgiu então a ideia de construir um projeto em conjunto para a prevenção da entrada das jovens e dos jovens nas instituições de atendimento. “Queremos desenvolver o projeto em parceria com a TV Degase, com palestras e mostras de audiovisual em escolas localizadas em áreas com altos índices de violência”.
As palestras serão realizadas pelos próprios produtores da TV, ex-integrantes do sistema Degase. A ação ganhou destaque no canal Futura e no canal da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a TV Alerj.
Sarau de Ideias
Outro exemplo do bom trabalho da Rede Sociocultural da Zona Norte foi a participação no Sarau de Ideias, promovido em novembro pela Rede Globo, no seu quiosque, em Copacabana. Identificadas e identificados com camisetas personalizadas e munidas e munidos de latas de jet, um grande número de grafiteiras e grafiteiros participou do evento – que teve música, poesia, performance e troca de livros com o público –.
Arte em Conjunto
O grupo Arte em Conjunto, parceiro da FLD, surgiu em 2006 a partir de um mutirão de limpeza organizado por jovens moradoras e moradores da Comunidade do Sapo, no bairro de Senador Camará. A iniciativa logo se tornou um mutirão de grafite, que veio a se consolidar como um evento anual.
Senador Camará já foi um dos lugares mais violentos da cidade do Rio de Janeiro. Conforme Mário Luiz Gomes, em 2006 a comunidade ocupava o primeiro lugar em queima de ônibus, tinha o maior índice de roubo de carros e a principal escola havia sido furtada 15 vezes em menos de um ano. Duas das maiores facções criminosas disputavam o território para a venda de drogas. Os moradores viviam uma realidade de medo, tensão e de silêncio.
“O que nos motivou a fazer algo foi a possibilidade de interferir naquela realidade, provocar os 12 mil moradores”, contou. Com a ajuda de amigos, organizou um grupo coordenador para promover “O dia em que a arte fez mais barulho”, que depois se chamaria Arte em Conjunto. O movimento foi crescendo e trazendo resultados: “passamos a nos comunicar por meio de ações culturais”.
Fotos: Mário Luiz Gomes. A foto da capa e as cinco primeiras fotos retratam a intervenção cultural na Escola João Luiz Alves e as três últimas, a participação no Sarau Cultural