Cerca de 300 religiosos de diversas tradições se reuniram na última quarta-feira, 30, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), para um ato em defesa da democracia. O movimento quer contribuir para o diálogo como forma de superar a crise que, como destacam seus representantes, não é só brasileira atingindo a vários países da América Latina. Os religiosos criticam também a judicialização da política e a partidarização da justiça em nosso país, afirmando que estas só têm feito acirrar a polarização.
O ato inter-religioso programado para acontecer no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, acabou sendo transferido para a Plenária 10 porque, a princípio, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) entendeu que o encontro seria para uma vigília que ocuparia o local por tempo indeterminado. Mesmo com o engano, o ato teve de acontecer num lugar diferente do que havia sido definido.
Ao lado da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB e do Comitê pró-democracia no Congresso Nacional, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) foi uma das entidades responsáveis por organizar o ato. A secretária geral da instituição, pastora Romi Bencke avaliou o evento como um grande sucesso, principalmente pela variedade expressões religiosas. “A presença de uma diversidade religiosa significativa foi o grande destaque. Estiveram representantes de tradições indígenas, africanas, budistas, cristãs. Todas elas em apoio a democracia. A tônica nas falas das lideranças era a seguinte: somente a democracia possibilita a coexistência entre as religiões”, comentou.
“O momento também foi oportuno para criticarmos a intolerância religiosa que afeta, de maneira especial, as tradições religiosas de matriz africana e indígena. Aproveitamos, ainda, para ler o Manifesto de Religiosas e Religiosos em Defesa da Democracia”, completou Romi.
Compareceram também parlamentares como Érika Kokay (PT-DF), Benedita da Silva (PT-RJ), Chico Alencar e Jean Willys (PSOL-RJ), além de representantes do Sindicato dos Petroleiros e do Movimento dos Sem Terra. Durante o evento, liturgias, canções que contam um pouco da história da resistência a todo tipo de autoritarismo e bênçãos.
A irmã Sueli Bellato, da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB, descreveu o ato como uma grande festa que remeteu a outros momentos históricos nos quais a luta pela democracia ocupou o primeiro lugar na agenda de diferentes segmentos. “Algo que as religiões têm de muito importante é isso, essa prática de celebrar a fé. Esse ato envolvendo um leque amplo de manifestações da religiosidade mostrou o que deve prevalecer: o diálogo, a paz e a justiça. Esses três elementos são básicos para a democracia. É ela que permite a diversidade, ao contrário dos regimes de exceção”, afirmou.
Ao fim do evento os religiosos fizeram a leitura de uma carta da presidente Dilma Rousseff. O documento afirma que “a ruptura da democracia corrói as bases sobre as quais os seres humanos constroem formas pacíficas de convivência e respeito mútuo”. O grupo que realizou o ato segue mobilizado coletando assinaturas de religiosos em defesa da democracia em uma petição online a ser entregue aos parlamentares.
Confira, neste link, uma outra lista de assinaturas (que se somam à petição online).
Clicando aqui, você também acessa a petição feita via Google.docs.