Nos últimos anos, as forças políticas conservadoras desenvolveram uma decidida campanha para retomar o poder no Brasil a qualquer preço. Fizeram de tudo para desestabilizar o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, visando sua derrota nas eleições de 2014.
Frustrados em seus intentos, aliaram-se aos maiores grupos de mídia para, sob a bandeira do combate à corrupção, alimentar uma indústria de denúncias de corrupção, noticiadas quase diariamente com alarde monumental. Muitas dessas denúncias se valeram de meios pouco transparentes para obter seus elementos de prova.
Essas forças chegaram ao poder com o impeachment da presidenta Dilma e a posse do vice-presidente Michel Temer. Este processo passou para a história como um golpe parlamentar perpetrado em nome da moralização da política brasileira e concretizou a ruptura democrática.
Desde então, o Poder Legislativo se fechou para a sociedade. O acesso às galerias – antes um espaço reservado à manifestação dos movimentos organizados em torno das pautas debatidas – foi substituído pelo fechamento dos acessos para a população e pelo cerco de policiais fortemente armados.
Em Brasília, trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, indígenas e outros setores do movimento social são tratados como criminosos e impedidos de se aproximar até da Praça dos Três Poderes. Essa coibição ocorre diariamente, mas de forma mais intensa nos dias em que proposições que afetam suas categorias são discutidas e votadas nos plenários. As discussões são realizadas a portas fechadas, sem participação da sociedade civil.
Os patrocinadores do golpe levaram ao Executivo e ao Congresso uma pauta de retrocessos. Essa pauta é claramente defendida pelo mercado financeiro. Incluem o corte de programas sociais, o sucateamento dos serviços públicos, venda de terras para estrangeiros, até chegar à reforma trabalhista e à reforma previdenciária. Além disso, a criminalização de movimentos e organizações sociais, em especial os que trabalham com a demarcação de terras para povos indígenas, como é o caso da CPI da FUNAI/INCRA, indicam que há claro interesse em promover uma limpeza de território para garantir o interesse de ruralistas. Essas propostas representam um corte brutal nos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, da ativa e aposentados, além de colocarem sob risco a soberania do país. Essas reformas constituem um retrocesso ao capitalismo antes de 1929, portanto, não são medidas que modernizam a economia.
Tomaram o poder prometendo combater a corrupção. Esta, todavia, dominou o novo governo. No último dia 17 de maio vieram a público revelações nas quais o presidente em exercício e lideranças de seu governo são gravados avalizando e praticando atos de corrupção no exercício do cargo. Essas são as provas de que falta a esse governo a legitimidade para conduzir os destinos da nação, especialmente, quando se discutem propostas que afetam a vida de toda a população nos próximos cinquenta anos.
Diante desse quadro complexo, O CONIC – Conselho nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – vem a público exigir:
1. o fim da repressão aos movimentos sociais, às manifestações populares;
2. a imediata suspensão da votação das reformas em andamento no Congresso;
3. a realização de eleições diretas para a Presidência da República e para as duas casas do Legislativo federal, com vistas a restaurar a legitimidade da representação popular.
Conclamamos as igrejas-membros do CONIC e a todas as pessoas cristãs que se coloquem em oração de intercessão pelo Brasil e, também, em atitude de resistência profética em favor da democracia, que garanta o acesso universal à saúde, à educação, à previdência social e ao emprego. Queremos uma democracia que garanta a distribuição de riquezas, garantia de direitos aos povos indígenas, taxação sobre grandes fortunas e que nos permita sonhar por novo céu e nova terra.
Nenhum direito a menos!
“É o amor de Cristo que nos move”
Brasília, 19 de maio de 2017.
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)