Por Assessoria de Comunicação FLD
Nos dias 25 e 26 de setembro e 17 e 18 de outubro, aconteceram mais duas etapas do curso de produção de sementes da Rede de Sementes Ecovida. As atividades reuniram 80 pessoas de 15 núcleos e foram realizadas, respectivamente, nos municípios de Chapecó e Jaguaruna, ambos em Santa Catarina.
As formações foram promovidas a partir do projeto Innova Ecovida, que visa fortalecer os processos de inovação protagonizados pelas famílias agricultoras a partir da construção social dos conhecimentos. O projeto é executado pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD), através do seu programa CAPA, junto com a Rede Ecovida de Agroecologia.
Para Maria das Alegrias Corrêa Garcia, agricultora agroecologista do Núcleo Serramar, inserida em uma unidade de referência (UR) de pesquisa de sementes, cuidar deste patrimônio é também cuidar da vida em todas as suas formas e beleza. “Somos uma semente da natureza, não há como falar de vida na terra sem falar, cuidar, plantar, colher e guardar sementes. Como guardiã pesquiso sobre o tema há mais de dez anos. Trabalhar com sementes e a terra revela o que ela precisa e pode nos dar, considerando o contexto de lugar, onde queremos estar e viver. Aprendi isso com meus bisavós, que também preservavam as sementes e nunca perdemos essa tradição”, explica.
Maria conta ainda que possui na propriedade sementes idosas, como ela chama, algumas guardadas pela mãe. “Tenho muitas cultivares já bem idosas que vivem aqui na propriedade e outras bem jovens chegando nesse lindo berçário. Mostrei aos participantes do curso sementes que têm 28 anos e outras que estão guardadas há mais tempo e eram as que minha mãe tinha e estão intactas. Sou muito grata em integrar o projeto Innova que nos ajuda a difundir e resgatar o conhecimento que ás vezes está esquecido ou foi devastado pelo ‘progresso’ que mascara a riqueza e fica soterrando a vida”.
Manuela de Faria, Coordenadora da Casa da Semente e integrante do Grupo Colo da Terra, da Rede Ecovida de Agroecologia e da Associação Semente para Todos – Assemente, no município de Mandirituba (PR) destaca que os cursos foram pensados, especialmente, para as famílias guardiãs, dedicadas à agricultura familiar. “Esses eventos, promovidos através do projeto Innova Ecovida, foram muito mais do que momentos de aprendizado. Eles representam um passo fundamental para fortalecer, preservar a diversidade e a sustentabilidade agrícola e foram fundamentais para a criação de uma Rede de Sementes”, explica.
Além disso, Manuela destaca que o apoio que as famílias guardiãs recebem através do projeto é fundamental para valorizar essas peças essenciais na conservação da biodiversidade e na promoção de práticas agroecológicas. “Os cursos proporcionam troca de conhecimento, ferramentas práticas e um espaço para debater desafios e soluções que valorizam as sementes crioulas e garantam a sua produção e distribuição de forma sustentável, valorizando o trabalho das famílias”, completa.
O projeto enfatiza a importância da autonomia das famílias da Rede e incentiva a preservação das variedades tradicionais, reforçando a resiliência das comunidades e promovendo práticas que respeitam o meio ambiente. Assim, o projeto tem sido impulsionador na construção de um futuro mais sustentável e colaborativo para a agricultura familiar.
Protagonismo
A partir do projeto foram criados instrumentos e condições para efetivar uma dinâmica de trabalho na construção de conhecimentos para desenvolver a produção, os cultivos e os processos de pesquisa sobre a temática de sementes.
“As dinâmicas de trabalho estão alinhadas a metodologias que se conectam às realidades de vida das famílias guardiãs, sendo utilizadas ferramentas pedagógicas que instrumentalizam e subsidiam o impulsionar das ações, para que os conhecimentos se fortaleçam, se intensifiquem e contribuam de forma objetiva no avanço da temática das sementes, envolvendo toda a estrutura organizativa da rede ecovida de Agroecologia. Nesse processo, o principal desafio tem sido o de envolver e conectar todos os núcleos, numa estratégia de aumentar o número de famílias guardiãs, com a perspectiva de melhorar a qualidade destes materiais genéticos, ampliar a diversidade e facilitar o acesso pelo coletivo agroecologista. Famílias que não tenham condições de produzir as suas próprias sementes, também podem demandar a rede e acessar esse banco genético, fortalecendo assim a estratégia de trabalho e de resistência dessas populações”, conta o coordenador técnico do Innova Ecovida e assessor da FLD-CAPA, Luiz Hartmann.
Projeto Innova Ecovida
O Innova Ecovida compõe o programa global “Organizações de agricultores líderes em pesquisa e inovação em agroecologia para sistemas alimentares sustentáveis”, chamado de FO-ledR&I, que também contempla ações no Uruguai, executadas pela Comision Nacional de Fomento Rural (CNFR). O projeto é financiado pela União Europeia (UE) e Organização de Estados da África, Caribe e Pacífico (OACP), por meio do instituto Cresol Agri-Agência.
Promover pesquisa e inovação e investir fortemente em formação são os dois principais objetivos do projeto Innova. A formação é realizada através de atividades como cursos, oficinas, dias de campo, seminários, reuniões e encontros.
Fotos: Luiz Hartmann|FLD-CAPA