Em uma grande ciranda, organizações e coletivos apoiados pelo Programa de Pequenos Projetos (PPP) da FLD começaram, no dia 12 de março, o Encontro sobre Gestão Coletiva de Projetos e Justiça de Gênero, realizado em São Leopoldo (RS).
Participaram do encontro representantes de 38 grupos apoiados, aprovados pelos editais: Diaconia, Justiça Econômica, Justiça Socioambiental e Moviracá: apoio a projetos de fortalecimento de organizações indígenas de base comunitária, lançados em outubro de 2023; além de pessoas da equipe da FLD.
Durante dois dias, os grupos estiveram em uma grande roda de partilhas para orientações sobre planejamento e monitoramento de seus projetos, formas de acompanhamento, elaboração de relatórios, prestação de contas e comunicação das atividades. Também foi um importante momento para tratar dos desafios e para trocas de saberes entre os diversos grupos presentes, a partir dos diferentes contextos de territórios e experiências na elaboração e execução de projetos.
Os grupos apoiados pelo edital Moviracá se reuniram um dia a mais para tratar das especificidades do edital, que está vinculado ao projeto “Moviracá: direito à terra indígena”. O projeto é uma parceria entre FLD e o Movimento Indígena, através do programa COMIN, com financiamento da União Europeia (UE).
“Perceber que vários grupos possuem uma preocupação em prol da vida e dignidade humana e da natureza, e poder compartilhar as angústias do meu trabalho e perceber que outros grupos também trabalham assuntos semelhantes, de forma a proporcionar algumas alternativas ou sugestões para a nossa realidade, foi muito importante”, ressaltou Lisete Marlene Tanscheit, da Associação Beneficente Escola Para Vida, de Ariquemes (RO).
Esse também foi um ponto destacado por Sirlei Madalena Stasinski Lopes, da Cooperativa Mista de Coleta Reciclagem de Encruzilhada do Sul (RS) (COOMCREAL). “A troca de experiência com outros grupos apoiados pela FLD foi muito gratificante. Pudemos perceber a diversidade de grupos apoiados e a preocupação da organização em dar suporte e fortalecer os grupos, principalmente com conhecimento”.
Todos os grupos receberam uma pasta com materiais de apoio para a gestão de seus projetos, além das Políticas de Gênero e de Justiça Socioambiental da FLD e do caderno Grupos em Roda: Democratizando a Gestão de Projetos Sociais com Justiça de Gênero, que traz ferramentas para a elaboração de projetos, de forma a se somar às práticas dos grupos e organizações de diferentes territórios, e informações sobre o que é a gestão democrática na criação de projetos sociais e como praticá-la com justiça de gênero.
Fluxos e apresentações
No primeiro dia, além das apresentações individuais, da FLD e do Programa de Pequenos Projetos, foi construída uma grande mandala com objetos trazidos pelas pessoas dos grupos que fossem símbolos significativos de cada organização e coletivo.
Ao longo da manhã, foram feitos diálogos e orientações e a construção de um painel com os fluxos necessários. Divididas pelos editais que foram selecionadas, as pessoas presentes trabalharam em grupos para reagir às apresentações e fluxos propostos, com suas dúvidas e sugestões, que foram partilhadas depois para todas e todos.
A acolhida e apresentações foram conduzidas por Julia Witt e Scheila Brito, coordenadoras do PPP, e Angelique Van Zeeland, assessora programática da organização. À noite, houve um momento de integração com alimentos e sucos de empreendimentos da economia solidária que atuam na região.
Justiça de Gênero
No segundo dia, o encontro tratou da gestão democrática de projetos com justiça de gênero e suas interseccionalidades, momento conduzido por Renate Gierus e Juliana Soares, assessora de projetos e coordenadora do Programa de Educação Antirracista, respectivamente. Como inspiração para que os grupos trabalhem com justiça de gênero, foi realizado um painel com a apresentação de quatro projetos, um de cada edital, e suas ações enfocando a temática. Participaram Carmen Lucia dos Santos, da Associação Comunitária Remanescente de Quilombo do Moçambique, de Canguçu (RS); Francimar Morais da Silva, do povo Kujubim, de Porto Velho (RO); Milagros Nazaret Loreto Escalante, da Cooperativa de Trabalho Mundo Mais Limpo, de São Leopoldo (RS); e Roberta Marques Alves Cirqueira, do Centro de Integração Martinho, de Belo Horizonte (MG).
“Esse é um assunto que a gente tem falado pouco dentro das comunidades. Mas, como a gente tem trabalhado mais com as mulheres, e as mulheres sofrem mais o preconceito, vamos trabalhar dentro dessa parte de explicar, desde crianças e jovens, essa igualdade de gênero. Que não devemos só aceitar e sim respeitar”, explicou Carmen Lucia.
Jaqueline de Paula Sabino, da Associação dos Produtores Rurais do Posto Indígena Barão de Antonina, de São Jerônimo da Serra (PR), aproveitou o painel para pensar sobre o projeto do seu coletivo. “O nosso projeto vai falar sobre o direito das mulheres indígenas e isso contribuiu muito pra gente conseguir perceber algumas coisas que antes não percebíamos. A gente conseguia fazer essa troca de ideias com outras comunidades indígenas que nem sempre a gente tem nas nossas comunidades: ver diferenças, como se organizam e começar a pensar como vamos fazer a nossa organização”.
Novamente divididas por editais, as pessoas participantes debateram, em grupos, sobre quais os principais desafios para executar seus projetos a partir de seus contextos, focando em gestão democrática com justiça de gênero. As discussões foram partilhadas depois em plenária.
À tarde, os grupos conheceram a Campanha Projetos de Vida com Cristian Metz, assessor de captação da FLD, e trataram sobre a temática da comunicação e a visibilidade das ações dos projetos com Daniela Huberty, coordenadora de Comunicação da organização.
O encontro foi finalizado com um momento de avaliação e, mais uma vez, os grupos em roda para uma grande ciranda e troca dos objetos que ficaram na mandala.