Ações, que ocorreram nos municípios de Santa Helena e Morretes, simbolizam um passo importante na luta contra o racismo no ambiente escolar.
POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA FLD
Fotos: Ana Paula Soukef
Integrando o plano de ação do projeto OPANÁ: Chão Indígena, foram realizadas as primeiras oficinas de educação antirracista nas regiões Oeste e Litoral do Paraná. Conduzidas pelas assessoras de projetos em educação antirracista do Programa CAPA, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Hanin Dawud e Jaqueline de Abreu, as oficinas foram voltadas para professoras e professores, coordenadoras e coordenadores pedagógicos dos municípios.
O objetivo destas ações é promover diálogos e reflexões sobre o racismo na educação, com o intuito de fortalecer práticas pedagógicas antirracistas. As iniciativas também visam ampliar a compreensão das dinâmicas de exclusão presentes no ambiente escolar e apoiar as participantes e os participantes na adoção de abordagens que favoreçam uma educação mais inclusiva, transformadora e alinhada aos princípios de equidade e justiça racial.
Oficina em Santa Helena
A oficina de educação antirracista em Santa Helena (PR) foi realizada na última segunda-feira (07), na Escola Nereu Ramos, e contou com a participação de onze professoras e professores da instituição. A atividade foi conduzida pela assessora de projetos Jaqueline de Abreu e teve como convidada especial a professora e liderança Guarani, Verginia Takua Potyju Martines, do Tekoha Vya Renda, localizado no próprio município.
Segundo Jaqueline, a discussão sobre antirracismo no Brasil envolve o entendimento das bases coloniais sobre as quais se estruturam nosso país. Para ela, essas formações são espaços fundamentais para a construção de um olhar crítico. “As oficinas possibilitam diálogos e trocas de conhecimentos que vão influenciar na atuação das profissionais na gestão, coordenação e em sala de aula”, disse.
Verginia destacou, em sua fala, a relevância de se conhecer a história indígena a partir das próprias pessoas indígenas, uma perspectiva que muitas e muitos não conhecem. “Alguns livros que eu li só descrevem o que os autores imaginam sobre nós indígenas, mas não escrevem o que realmente está passando, o que realmente está acontecendo”, comentou. Ela também enfatizou a necessidade de a escola não indígena saber entender as particularidades culturais de cada povo, referindo-se à importância de saber respeitar seus processos de luto, suas dinâmicas de sociabilidade, dentre outros aspectos.
Durante a oficina, não apenas foram discutidas questões relacionadas à história indígena e às leis que regulamentam o combate ao racismo, mas também se abriu um espaço para que as professoras e os professores compartilhassem experiências reais de suas rotinas escolares. Situações e desafios cotidianos ganharam destaque, criando um espaço coletivo para a discussão de estratégias de enfrentamento ao racismo.
Oficina em Morretes
Realizada no dia 26 de setembro, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Morretes (SMEDE), a ação reuniu 25 diretoras e coordenadoras pedagógicas da rede municipal de ensino, integrando a agenda de “Formação Continuada para os Profissionais do Magistério”. O evento foi conduzido pelas assessoras Hanin Dawud e Jaqueline de Abreu e contou com a participação de convidadas como a professora Dra. Edicélia Maria dos Santos de Souza, gestora do projeto AFROLIP – Afrodescendentes do Litoral Paranaense; a professora Dra. Ana Elisa de Castro, coordenadora do Laboratório de Interculturalidade e Diversidade (LaID) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral; e Patrícia Faustino Slompo, educadora na comunidade Guarani Guaviraty, de Pontal do Paraná (PR).
Edicélia destacou a importância das formações antirracistas para garantir um futuro melhor às populações indígenas e negras. Segundo ela, o racismo ainda é uma realidade evidente no litoral paranaense, e poucos municípios aplicam efetivamente as leis 10.639 e 11.645, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Ela reforçou que essas iniciativas são fundamentais para que essas populações possam ter acesso a direitos, avançar na educação e conquistar maior representação na sociedade. “O que interessa pra nós, além de ensinar e conscientizar, é pensar nessas populações em termos de futuro. Como vão estar os indígenas daqui a dez anos? Como vão estar os afrodescendentes?”, questionou.
As outras professoras convidadas da atividade, Ana Elisa e Patrícia, abordaram as especificidades das realidades indígenas no contexto paranaense, enfocando os desafios da garantia de direitos em um país onde a maior parte dos territórios indígenas não são demarcados. Segundo Ana Elisa, “garantir a terra é a base para a garantia da vida”, por isso mesmo a discussão sobre combate ao racismo não se desvincula do reconhecimento dos direitos territoriais.
Durante a atividade, as participantes responderam a um questionário sobre Indicadores de Qualidade da Educação e Relações Raciais na Escola, com o objetivo de coletar dados sobre a estrutura das relações étnico-raciais no ambiente escolar. Para Hanin, “esse mapeamento das condições didáticas, pedagógicas e do espaço possibilita a percepção das desigualdades raciais e permite avaliar como a gestão opera para promover a equidade racial e o combate ao racismo na escola”. O mapeamento e a avaliação da gestão são apenas parte do esforço necessário para enfrentar o problema.
Projeto OPANÁ: Chão Indígena
O projeto OPANÁ tem seu foco na sustentabilidade ambiental e alimentar das comunidades Guarani do Oeste e Litoral do Paraná e a promoção de ações de Educação Antirracista para público não indígena, por meio de atividades interculturais com escolas públicas, instituições de ensino superior e equipamentos de proteção social e atendimento à saúde. Para este mês já está prevista a realização de uma nova atividade de educação antirracista, desta vez no município de Guaíra (PR).
Segundo Jhony Luchmann, da coordenação do OPANÁ, a importância destas atividades é construir o enfrentamento ao racismo de maneira objetiva e pedagógica, começando pela educação, que é a base de nossa sociedade. Para ele, “a realização das duas primeiras oficinas marcam o início de um trabalho importante na luta pela desconstrução das estruturas que perpetuam o racismo”, afirma.
Paulo Porto, gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu Binacional, aponta que é comum ouvir no Paraná a ideia equivocada de que não há populações indígenas no estado. Segundo ele, essa visão reflete a desinformação que permeia a questão indígena sob uma perspectiva colonizadora. “As oficinas antirracistas do projeto têm como objetivo justamente combater essa desinformação, pois é ela que gera uma cultura de ódio e preconceito contra as comunidades indígenas, não só no oeste, mas em todo o Paraná”, afirma.
OPANÁ: Chão Indígena é um projeto da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), por meio do Programa CAPA em parceria com a Itaipu Binacional.