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Projeto OPANÁ realiza primeiras oficinas de educação antirracista no Paraná

Projeto OPANÁ realiza primeiras oficinas de educação antirracista no Paraná
10 de outubro de 2024 Ana Paula

Ações, que ocorreram nos municípios de Santa Helena e Morretes, simbolizam um passo importante na luta contra o racismo no ambiente escolar.

POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA FLD
Fotos: Ana Paula Soukef

Integrando o plano de ação do projeto OPANÁ: Chão Indígena, foram realizadas as primeiras oficinas de educação antirracista nas regiões Oeste e Litoral do Paraná. Conduzidas pelas assessoras de projetos em educação antirracista do Programa CAPA, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Hanin Dawud e Jaqueline de Abreu, as oficinas foram voltadas para professoras e professores, coordenadoras e coordenadores pedagógicos dos municípios. 

O objetivo destas ações é promover diálogos e reflexões sobre o racismo na educação, com o intuito de fortalecer práticas pedagógicas antirracistas. As iniciativas também visam ampliar a compreensão das dinâmicas de exclusão presentes no ambiente escolar e apoiar as participantes e os participantes na adoção de abordagens que favoreçam uma educação mais inclusiva, transformadora e alinhada aos princípios de equidade e justiça racial. 

Oficina em Santa Helena

A oficina de educação antirracista em Santa Helena (PR) foi realizada na última segunda-feira (07), na Escola Nereu Ramos, e contou com a participação de onze professoras e professores da instituição. A atividade foi conduzida pela assessora de projetos Jaqueline de Abreu e teve como convidada especial a professora e liderança Guarani, Verginia Takua Potyju Martines, do Tekoha Vya Renda, localizado no próprio município.  

Segundo Jaqueline, a discussão sobre antirracismo no Brasil envolve o entendimento das bases coloniais sobre as quais se estruturam nosso país. Para ela, essas formações são espaços fundamentais para a construção de um olhar crítico. “As oficinas possibilitam diálogos e trocas de conhecimentos que vão influenciar na atuação das profissionais na gestão, coordenação e em sala de aula”, disse. 

Verginia destacou, em sua fala, a relevância de se conhecer a história indígena a partir das próprias pessoas indígenas, uma perspectiva que muitas e muitos não conhecem. “Alguns livros que eu li só descrevem o que os autores imaginam sobre nós indígenas, mas não escrevem o que realmente está passando, o que realmente está acontecendo”, comentou. Ela também enfatizou a necessidade de a escola não indígena saber entender as particularidades culturais de cada povo, referindo-se à importância de saber respeitar seus processos de luto, suas dinâmicas de sociabilidade, dentre outros aspectos.  

Durante a oficina, não apenas foram discutidas questões relacionadas à história indígena e às leis que regulamentam o combate ao racismo, mas também se abriu um espaço para que as professoras e os professores compartilhassem experiências reais de suas rotinas escolares. Situações e desafios cotidianos ganharam destaque, criando um espaço coletivo para a discussão de estratégias de enfrentamento ao racismo. 

Oficina em Morretes

Realizada no dia 26 de setembro, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Morretes (SMEDE), a ação reuniu 25 diretoras e coordenadoras pedagógicas da rede municipal de ensino, integrando a agenda de “Formação Continuada para os Profissionais do Magistério”. O evento foi conduzido pelas assessoras Hanin Dawud e Jaqueline de Abreu e contou com a participação de convidadas como a professora Dra. Edicélia Maria dos Santos de Souza, gestora do projeto AFROLIP – Afrodescendentes do Litoral Paranaense; a professora Dra. Ana Elisa de Castro, coordenadora do Laboratório de Interculturalidade e Diversidade (LaID) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral; e Patrícia Faustino Slompo, educadora na comunidade Guarani Guaviraty, de Pontal do Paraná (PR). 

Edicélia destacou a importância das formações antirracistas para garantir um futuro melhor às populações indígenas e negras. Segundo ela, o racismo ainda é uma realidade evidente no litoral paranaense, e poucos municípios aplicam efetivamente as leis 10.639 e 11.645, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Ela reforçou que essas iniciativas são fundamentais para que essas populações possam ter acesso a direitos, avançar na educação e conquistar maior representação na sociedade. “O que interessa pra nós, além de ensinar e conscientizar, é pensar nessas populações em termos de futuro. Como vão estar os indígenas daqui a dez anos? Como vão estar os afrodescendentes?”, questionou.

As outras professoras convidadas da atividade, Ana Elisa e Patrícia, abordaram as especificidades das realidades indígenas no contexto paranaense, enfocando os desafios da garantia de direitos em um país onde a maior parte dos territórios indígenas não são demarcados. Segundo Ana Elisa, “garantir a terra é a base para a garantia da vida”, por isso mesmo a discussão sobre combate ao racismo não se desvincula do reconhecimento dos direitos territoriais. 

Durante a atividade, as participantes responderam a um questionário sobre Indicadores de Qualidade da Educação e Relações Raciais na Escola, com o objetivo de coletar dados sobre a estrutura das relações étnico-raciais no ambiente escolar. Para Hanin, “esse mapeamento das condições didáticas, pedagógicas e do espaço possibilita a percepção das desigualdades raciais e permite avaliar como a gestão opera para promover a equidade racial e o combate ao racismo na escola”. O mapeamento e a avaliação da gestão são apenas parte do esforço necessário para enfrentar o problema. 

Projeto OPANÁ: Chão Indígena

O projeto OPANÁ tem seu foco na sustentabilidade ambiental e alimentar das comunidades Guarani do Oeste e Litoral do Paraná e a promoção de ações de Educação Antirracista para público não indígena, por meio de atividades interculturais com escolas públicas, instituições de ensino superior e equipamentos de proteção social e atendimento à saúde. Para este mês já está prevista a realização de uma nova atividade de educação antirracista, desta vez no município de Guaíra (PR).

Segundo Jhony Luchmann, da coordenação do OPANÁ, a importância destas atividades é construir o enfrentamento ao racismo de maneira objetiva e pedagógica, começando pela educação, que é a base de nossa sociedade. Para ele, “a realização das duas primeiras oficinas marcam o início de um trabalho importante na luta pela desconstrução das estruturas que perpetuam o racismo”, afirma.

Paulo Porto, gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu Binacional, aponta que é comum ouvir no Paraná a ideia equivocada de que não há populações indígenas no estado. Segundo ele, essa visão reflete a desinformação que permeia a questão indígena sob uma perspectiva colonizadora. “As oficinas antirracistas do projeto têm como objetivo justamente combater essa desinformação, pois é ela que gera uma cultura de ódio e preconceito contra as comunidades indígenas, não só no oeste, mas em todo o Paraná”, afirma. 

OPANÁ: Chão Indígena é um projeto da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), por meio do Programa CAPA em parceria com a Itaipu Binacional.

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