Projeto OPANÁ, realizado em parceria com Itaipu Binacional, conclui fase de construção dos planos comunitários e segue para próxima etapa
POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA FLD
Fotos: Ana Paula Soukef, Daniela Herrmann, Fábio Conterno e Fernando Diniz
Neste mês, o projeto OPANÁ: Chão Indígena concluiu a etapa de construção dos planos comunitários com as 32 comunidades Guarani do Oeste e Litoral paranaense envolvidas na iniciativa. Com essa finalização, o projeto avança para uma nova fase, focada na implementação dos Sistemas Indígenas de Produção Agroecológica (SIPAs). Os planos comunitários servirão como guia para esta nova etapa, refletindo os desejos e necessidades das comunidades, alinhados às possibilidades práticas do projeto.
A construção dos planos teve início no mês de julho, sob a condução das mais de 20 assessorias técnicas que compõem a equipe. A metodologia utilizada foi desenvolvida de forma coletiva pela equipe junto às lideranças indígenas participantes, além disso foi utilizado como referência o Método LUME (Método de Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas), que orienta a avaliação de práticas agroecológicas tendo em vista as relações econômicas, ambientais e políticas.
A metodologia utilizada pelo projeto OPANÁ seguiu um enfoque participativo, visando assegurar o protagonismo Guarani e a construção de estratégias adaptadas à realidade cultural e territorial deste povo. As comunidades indígenas do Oeste e Litoral do Paraná enfrentam desafios como a vulnerabilidade econômica, a luta pelo reconhecimento e o enfrentamento ao racismo, fatores que tornam indispensável a adaptação da metodologia às especificidades do contexto.
A construção dos planos comunitários foi dividida em cinco etapas principais, sendo elas:
Caminhada pelo Território, que consistiu em uma visita inicial de aproximação entre as equipes e as comunidades Guarani, tendo como objetivo conhecer o território e proporcionar um espaço de apresentação recíproca. Esse momento foi pensado para fortalecer a confiança e o respeito entre as assessorias e as comunidades.
Linha do Tempo, etapa na qual foi utilizada a estratégia de construção de uma linha temporal que permitiu à comunidade contar, por meio de registros orais, visuais e escritos, a trajetória histórica de seu tekoha. Esse passo destacou eventos significativos e expectativas para o futuro, oferecendo uma base para a identificação de suas principais demandas e aspirações.
Distribuição dos SIPAs, momento de apresentação dos Sistemas Indígenas de Produção Agroecológica e identificação espacial das áreas de implantação, com a utilização de mapas. Durante essa fase, foram definidos pelas comunidades os locais dos SIPAs, as famílias responsáveis pela manutenção dos sistemas e a forma de organização e divisão dos cuidados. Os SIPAs disponibilizados pelo projeto incluem quintais produtivos, roçados, galinheiros, chiqueiros, meliponários, tanques de peixes, além de kits de pesca.
Definição das Espécies Vegetais, etapa em que foram discutidas, com as famílias responsáveis, as espécies a serem cultivadas nos quintais e roçados, levando em consideração as especificidades ecológicas e culturais de cada comunidade. O planejamento agroecológico foi conduzido de forma colaborativa, priorizando a visão Guarani tanto na definição das espécies quanto na distribuição espacial pelo território.
Avaliação Técnica e Mapeamento, esta foi a última etapa do plano comunitário, que consistiu na realização de visitas técnicas aos locais definidos para a implantação dos SIPAs. Durante essas visitas, foram realizadas avaliações das condições ambientais e dimensionamento da área, a fim de garantir que os locais selecionados sejam adequados para o manejo sustentável, agroecológico e produtivo.
Essas cinco etapas formaram a base metodológica para a construção e sistematização do plano de ação do projeto. Embora a mesma metodologia tenha sido aplicada a todas as comunidades, cada tekoha imprimiu características próprias ao processo, refletindo suas particularidades e história. Essa adaptabilidade permitiu não apenas a adequação das técnicas, mas também a valorização das práticas já existentes em cada lugar.
Para a assessora de projetos da FLD Leticia Mendes, que atuou diretamente com as comunidades indígenas de Guaíra, os planos comunitários foram importantes para fazer uma aproximação. “Neste primeiro momento, ficou evidente que as comunidades, ao contarem as suas histórias, se mostraram abertas a nós e ao projeto”, afirma. Ela também destaca que o plano comunitário foi uma forma das e dos participantes se apropriarem do projeto e atuarem diretamente na tomada de decisões com relação aos cultivos e aos sistemas agroecológicos.
Para Jéssica Kerexu, da comunidade Kuaray Haxa, fundadora e coordenadora do Coletivo Xondarias Jera Rete, do litoral do Paraná, o plano comunitário trouxe novas perspectivas para os territórios envolvidos, principalmente em relação ao fortalecimento do cultivo de alimentos tradicionais, que muitas vezes é dificultado pelas limitações existentes. Para ela, o mais importante no OPANÁ é prezar pela autonomia Guarani. “O projeto está trazendo uma nova visão de como seguir adiante com nossos próprios meios quando ele chegar ao fim”, afirma.
Implementação dos SIPAs
Finalizada a etapa de construção dos planos comunitários, o projeto OPANÁ entra agora na fase de implementação dos SIPAs. No total, para as 32 comunidades participantes da ação, serão implementadas 83 unidades de quintais produtivos, 58 roçados, 64 galinheiros, 28 chiqueiros, 46 meliponários e 31 tanques elevados de criação de peixes. Além disso, o projeto também prevê a distribuição de 15 kits de pesca artesanal.
Através destes sistemas, o projeto OPANÁ visa trabalhar no fortalecimento da segurança nutricional e na soberania alimentar das comunidades Guarani, que é um dos grandes desafios enfrentados pelos povos indígenas na atualidade. Para Ismael Martins Rodrigues, cacique da Tekoha Karumbey, no oeste paranaense, é muito importante a troca de conhecimentos entre a equipe técnica do projeto e o povo Guarani, pois os conhecimentos construídos coletivamente irão perdurar e fortalecer a sobrevivência das comunidades ao longo do tempo. Ele também destaca a relevância de todas e todos saberem trabalhar de maneira coletiva, especialmente as lideranças indígenas, que, para ele, têm uma grande responsabilidade para o bom funcionamento das ações.
Daniela Herrmann, coordenadora técnica do projeto OPANÁ, destaca que a expectativa, a partir de agora, é promover ações colaborativas, como mutirões, oficinas e visitas técnicas, visando a implantação dos sistemas pelas próprias comunidades, de maneira a fortalecer seu sentimento de pertencimento e comprometimento com o processo.