POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA FLD
As organizações e coletivos que tiveram seus projetos selecionados nos Editais 2024 “Emergência Climática” do Programa de Pequenos Projetos, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), reuniram-se, nos dias 17 e 18 de setembro, em Porto Alegre (RS), para conversar sobre o planejamento e a gestão de seus projetos. Ao todo, 27 projetos foram selecionados nos editais, nas áreas “Recuperação da economia popular solidária na Região Metropolitana de Porto Alegre/RS” e “Juventudes e Justiça Climática”.
Junto à mandala que foi construída com diferentes objetos que simbolizam as organizações e coletivos presentes, foram realizadas diversas trocas de experiências, saberes e desafios entre as pessoas durante os dois dias de encontro. “Foi essencial a FLD trabalhar essa conexão entre os projetos para que a gente possa cada vez melhorar e avançar mais nas nossas lutas, ampliar nossas lutas dentro do nosso território e conectar territórios. Para a FLD, a distância não impede a conexão entre os projetos e eu acho isso incrível”, destaca Enri Medeiros Freitas, do Centro de Referência em Direitos Humanos Professora Lisiane Lopes, de Charqueadas (RS).
“Nesses encontros, a gente conhece e consegue ver a diversidade de projetos que a FLD apoia, a diversidade de pessoas que constroem ações em parceria com a FLD e, acima de tudo, as redes entre os próprios, então a gente constrói um networking muito bom. Essa possibilidade de troca de experiências com os outros grupos foi para somar muito na execução do projeto e realização também de melhorias no nosso projeto”, complementa.
O encontro foi um importante momento para apresentar o Programa de Pequenos Projetos e as formas de acompanhamento aos grupos, elaboração de relatórios e prestação de contas. A acolhida e apresentações foram conduzidas por Angelique Van Zeeland, Julia Witt e Scheila Brito, coordenadoras do Programa. Também houve momento para tratar da gestão democrática de projetos com justiça de gênero e suas interseccionalidades, com o apoio de Renate Gierus, assessora de projetos na área de justiça de gênero, e Juliana Soares, coordenadora do Programa de Educação Antirracista; e sobre comunicação e a visibilidade das ações, com Daniela Silva Huberty, coordenadora de Comunicação.
Os editais “Emergência Climática”, lançados em julho de 2024, buscam contribuir com o restabelecimento e retomada de atividades de grupos da economia popular solidária e de povos e comunidades tradicionais atingidos pela calamidade climática no estado do Rio Grande do Sul; e com as atividades de grupos de juventudes urbanas em suas ações diretas de apoio e recuperação, de articulação e incidência frente à emergência climática, além de apoio psicossocial de base comunitária.
Enchentes no RS e a emergência climática
Em maio de 2024, depois de fortes chuvas e da maior enchente que se tem registro na história do Rio Grande do Sul, diversos bairros dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, uma das mais atingidas, ficaram sob a água durante mais de duas semanas. Residências, locais de trabalho, escolas, estradas e pontes foram destruídos, e serviços essenciais, como água potável, energia e comunicação, seriamente comprometidos. Em todo o estado, mais de duas milhões de pessoas foram afetadas, 806 pessoas ficaram feridas e 182 mortes foram confirmadas, segundo dados da Defesa Civil.
Isabel Cristina Passos, yalorixá do Ilê Axé OYAWOYE, terreiro de candomblé localizado no município de São Leopoldo (RS), foi uma das milhares de pessoas afetadas pela enchente. Ela ressalta a importância de editais como o do Programa de Pequenos Projetos para que povos e comunidades tradicionais possam retomar a produção e geração de renda e manutenção dos seus modos de vida. “Tivemos nosso Axé e nossa Cozinha Comunitária totalmente destruídos, assim como minha residência. Após meses buscando meios para reconstruir nosso espaço e dar sequência em nossos trabalhos para com a nossa comunidade, tivemos a oportunidade de participar da formação proporcionada pela FLD. Instituição esta que nos permite retomarmos nossos projetos junto à nossa comunidade, nos permitindo sonhar novamente”.
O impacto também foi sentido por inúmeros empreendimentos da economia solidária, principalmente pelas mulheres, como lembra Lisbet dos Santos Pinheiro, artesã, gestora de projetos e integrante fundadora do Fórum Fespope – Fórum das Mulheres Negras Trabalhadoras da Economia Popular e Solidária. “Muitas perderam casa e móveis e todas tiveram grande parte, senão toda, renda vinda da economia popular e solidária cortada porque perderam também seus produtos de venda”. Ela destaca a importância do restabelecimento das atividades produtivas e de comercialização. “É muito importante a retomada de nossas atividades, a volta do fluxo de vendas e encomendas que impacta as mulheres e suas famílias que trabalham nos seus empreendimentos e se sustentam deles. Nosso projeto prevê ajuda para as mulheres retomarem suas produções, com aquisição de insumos, uma Feira em ponto central da capital e um seminário de planejamento para continuarem suas atividades nos próximos meses”.
Reconstrução pelas juventudes
Em decorrência da enchente, muitos grupos e comunidades se articularam em ações de solidariedade e enfrentamento à situação, com coletivos de juventudes urbanas desempenhando papel fundamental em muitos locais e territórios, como lembra Aléxia Prestes, militante do Levante Popular da Juventude RS. “A juventude, junto com os movimentos sociais e a população, se mobilizaram para responder às necessidades do nosso povo, em especial o combate à fome e à insegurança alimentar, construindo arrecadação e distribuição de cestas básicas, as cozinhas solidárias e muitos espaços de formação e luta”.
Ela ressalta o papel das juventudes como protagonistas para pautar e denunciar os efeitos causados pela emergência climática e à exploração e esgotamento dos bens naturais e a necessidade de uma nova relação com o planeta. “Acreditamos que, para o enfrentamento da crise ambiental, precisamos de uma transformação social, construir uma nova sociedade e novas relações. Uma sociedade que não seja pautada pelo consumo e destruição da natureza. Nesse sentido, os movimentos sociais e a sociedade precisam estar juntos e organizados, pensar em saídas coletivas para os desafios postos, que não são poucos e nem simples”.
Caderno Grupos em Roda
Além das Políticas de Gênero e de Justiça Socioambiental da FLD, todos os grupos que participaram do encontro receberam materiais de apoio para a gestão de seus projetos, entre eles o caderno Grupos em Roda: Democratizando a Gestão de Projetos Sociais com Justiça de Gênero, que traz ferramentas para a elaboração de projetos, de forma a se somar às práticas dos grupos e organizações de diferentes territórios, e informações sobre o que é a gestão democrática na criação de projetos sociais e como praticá-la com justiça de gênero.