“A concretização deste contrato é um marco. Percorremos um longo caminho até aqui, de muita luta, sofrimento, frustrações, mas também de muita esperança”, disse a liderança do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e coordenadora da Associação dos Catadores Amigos da Natureza (Aclan), de Uruguaiana (RS), Maria Tugira da Silva Cardoso. A fala refere-se à cerimônia realizada no dia 11 de julho, na Prefeitura Municipal, onde foi acordada a contratação da Aclan para a prestação do serviço de coleta seletiva solidária em nove bairros da cidade, que será gradativamente ampliado de acordo com sua consolidação e desenvolvimento.
A partir da efetivação do contrato, catadoras e catadores poderão deixar o trabalho no lixão para realizar a coleta seletiva solidária. Com a iniciativa, Uruguaiana se torna pioneira na região, como o primeiro município a adotar o modelo, determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê o fechamento dos lixões no país e a inclusão socioeconômica de catadoras e catadores.
Na sua fala, o prefeito Luiz Augusto Schneider lembrou das dificuldades de se mexer na estrutura do serviço de limpeza urbana. “Existem vários obstáculos, um deles é o financeiro”. “Mas temos plena certeza de que é uma mudança necessária. A proposta desta contratação é um início, e vamos seguir construindo para que, ao lado de outros municípios que optaram pela inclusão social, possamos construir uma nova história.”
Longo processo
A luta das catadoras e dos catadores de Uruguaiana não é de hoje. Há décadas que famílias sobrevivem dos materiais catados no lixão, trabalhando em condições indignas e desumanas. A situação se agravou com a ameaça de fechamento do espaço, previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos para agosto deste ano (2014), sem nenhuma alternativa concreta para muitos grupos.
Diversas iniciativas buscaram reverter a situação. “Foram seminários, negociações com todas as esferas de governo, ações diretas, principalmente a última que realizamos – a ocupação do lixão e uma audiência pública -“, afirmou Tugira. A campanha internacional de solidariedade organizada pelo MNCR também teve grande impacto, resultando no apoio de distintas partes do país e do mundo. “Foi um conjunto de coisas que resultou nesta conquista, que é de todas e todos que lutam”.
“Com certeza, catadoras/es e famílias terão mudanças significativas nas suas vidas”, disse a assessora de projetos da FLD, Angelique van Zeeland, ao congratular o MNCR. “Parabenizo e agradeço a todas e todos do movimento, que se dedicam e participam do processo, e meu agradecimento especial e minha admiração pela dedicação e persistência de dona Tugira. Enquanto FLD, estamos imensamente felizes de estarmos contribuindo neste processo”.
Desafios
“Falta muita coisa ainda, mas avançamos muito”, comemorou Tugira. Para as próximas semanas, diversas ações estão sendo programadas, buscando sensibilizar a comunidade, o poder público, lojas e supermercados, escolas, entre outros, sobre a importância da coleta seletiva e do trabalho de catação.
A formação das catadoras/es já foi iniciada, através do MNCR, com apoio da Fundação Luterana de Diaconia. “A formação é fundamental para termos um grupo coeso”, afirmou Tugira.
No que se refere ao novo espaço de trabalho, ao lado do lixão municipal está sendo construído um galpão para a triagem dos materiais, financiado pelo governo estadual. A aquisição de equipamentos terá apoio do governo federal. Enquanto o galpão não fica pronto, o governo estadual, a partir de parceria com a prefeitura, disponibilizou um local no centro da cidade para que a Aclan inicie as suas atividades.
Texto: Assessoria de Comunicação MNCR com a Coordenação de Comunicação da FLD.