As águas já baixaram, mas, assim como tantas outras, a cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo, ainda sofre com os resultados das fortes chuvas de dezembro. De acordo com moradoras e moradores, nunca na história os rios Doce e Guandu encheram tanto. Muitas casas foram inundadas. A correnteza da água era impressionante. O bairro Sapucaia, onde um córrego havia sido canalizado, foi duramente castigado devido ao rompimento de pequenas represas que ficam às voltas da cidade.
Ficou um cenário de destruição. “O sentimento geral é aconteceu uma guerra”, relatou o pastor da Comunidade de Baixo Guandu, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Vitorino Reetz.
Quem mais sofreu com as inundações foram as pessoas que moram na periferia e no interior (as/os agricultores). É difícil ver o desespero das pessoas em situação financeira frágil, que perderam tudo o que tinham. ”A gente vê isso na televisão e acha que nunca vai acontecer, agora olha isso aqui… A enchente acabou com tudo, é muito triste”, disse uma senhora, chorando.
Em muitos lugares, não existem mais estradas, dezenas de pontes foram destruídas, plantações foram perdidas, famílias estão tirando leite e jogando fora, pois não têm como transportar a produção para venda. Em praticamente todas as propriedades ocorreram deslizamentos de terras, pequenos ou grandes. Muitas famílias continuam ilhadas no interior e não têm como chegar à cidade.
Das 24 vítimas fatais, o município de Baixo Guandu contabilizou três. Destas, um membro da comunidade luterana de Jacutinga, Sidnei Kancke Kriger, que foi levado pela correnteza. Casado, deixou esposa e um filhinho de dois anos.
A família do zelador da comunidade luterana de Santo Antônio, Antônio Stan, viu a morte de perto. A casa cedeu com os deslizamentos. Dona Olinda, esposa de Antònio, conseguiu sair e pedir ajuda para o marido e a filha Valéria, que ficaram soterrados por cerca de quatro horas. “Várias pessoas me disseram que não sabem como eles conseguiram sair vivos dessa tragédia”, lembrou pastor Vitorino. Todos estão bem.
Confiança e reconstrução
No sofrimento, as reações são diversas. Uma história que marcou o pastor Reetz foram as falas de Olinda e Antônio Stan, quando esteve visitando-os no hospital. “Ela e ele falaram comigo muito emocionados. Teriam todas as razões para reclamar, se revoltar por tudo que aconteceu. Mas só sabiam agradecer por terem sobrevivido.” Nas palavras de dona Olinda, “Deus não deixou a gente morrer lá debaixo das paredes e lama, Ele botou a mão e nos protegeu. Nós só podemos agradecer por estarmos vivos”.
Para olhar para frente, pastor Vitorino lembrou a palavra de Romanos 12.12: Que a esperança que vocês têm os mantenha alegres; aguentem com paciência os sofrimentos e orem sempre.
“Vai ser preciso muita paciência diante do cenário que ficou. Infelizmente, dificuldades e sofrimentos fazem parte da vida. Mas, como cristãs e cristãos, não nos deixamos abalar a ponto de nos entregarmos. Nossa esperança está centrada em Deus e Ele nos dá força, nos capacita e estende sua mão, para nos reerguermos. Para vencer os obstáculos é preciso que as pessoas estejam unidas, ajudando-se umas às outras.”
Doações
Comunidades ou mesmo pessoas físicas podem ser solidárias com o povo capixaba, enviando doações em dinheiro para a conta da IECLB:
- Banco do Brasil: Agência 0010-8 – Conta corrente 60.000-8; CNPJ 92.926.864/0001-57.
Os valores e origem dos valores devem ser informados, via o endereço secretariageral@ieclb.org.br. A partir do levantamento das necessidades que o Sínodo Espírito Santo a Belém fará, as doações serão devidamente encaminhadas.
O Sínodo Espírito Santo a Belém também disponibilizou contas bancárias para o recebimento de auxílio financeiro:
- Bradesco: Agência 2197-0 – Conta corrente 7.204-4
- Banestes: Agência 271 – Conta corrente 6.391.809
- Sicoob: Agência 3008 – Conta corrente 71.467-4
Boletim da Defesa Civil
As últimas informações publicadas no site da Defesa Civil do Espírito Santo são do dia 2 de janeiro. De acordo com o boletim daquele dia, o número de pessoas que ainda não conseguiram retornar para suas casas é de 43.304; número de pessoas que ainda estão em abrigos, de 6.289 e em casas de parentes ou amigos, 36.915.
O levantamento de pessoas afetadas continua prejudicado pela dificuldade de acesso a muitas localidades, algumas isoladas devido às intensas inundações.
O número de vítimas fatais confirmadas é de 24: três em Baixo Guandu, quatro em Barra de São Francisco, oito em Colatina, uma em Domingos Martins, seis em Itaguaçu, uma em Nova Venécia e outra em Pancas. Duas pessoas continuam desaparecidas.
Fotos: Divulgação/Hiago Neumann Rutsatz/Patricia Aguiar Wutki Andreatta