Uma das atividades realizadas na Oficina Básica de Apoio Psicossocial de Base Comunitária, promovida de 26 a 28 de junho pela FLD em Florianópolis (SC), foi a representação do caos de uma situação de emergência, com as e os participantes “vestindo” personagens como polícia, bombeiro, imprensa, SAMU, Defesa Civil, liderança comunitária, crianças e pessoas com deficiência. O exercício foi proposto pelas duas palestrantes convidadas, a psicóloga Janaína Rocha Furtado e a socióloga Rita de Cássia Dutra, que atuam no Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped), ligado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“Ninguém me escutava, cada pessoa corria para um lado”, foram alguns dos comentários feitos na análise do exercício. “Eu não estava nem ferida e me colocaram em uma ambulância”, disse a assistente social Patrícia Nogueira, de Panambi (RS). “Me pareceu que o canto da sala estava funcionando como um abrigo, assim, fui levando crianças e pessoas idosas para lá”, relatou Simone Voigt, da Secretaria de Ação Comunitária/Secretaria Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). “Mas percebi que não tinha ninguém responsável pelo local, assim, ao invés de eu poder sair novamente e resgatar mais pessoas, tive que ficar me dividindo.” Agenor Becker contou que ele fez o papel de uma pessoa com deficiência visual: “eu não sabia o que estava acontecendo, pessoas vinham ao meu encontro para ajudar e acabavam assustando mais. Ficavam perguntando o que havia acontecido, justamente para mim, que não enxergava. Muitas vezes, na ânsia de ajudar, não se escuta o que as outras pessoas têm para dizer.”
O objetivo do exercício foi justamente essa. Na representação, foi possível identificar algumas das questões que acontecem na realidade. Falta coordenação, falta informação, faltam lideranças ou há excesso delas, tomando decisões diversas. “Aconteceu aqui, imagina em uma situação real”.
A atuação na área de emergências vai além da ajuda emergencial. No Brasil, começa a ser trabalhado de forma mais geral o conceito de gestão de desastres, que inclui, prioritariamente, a prevenção, além do mapeamento, monitoramento e alerta e, finalmente, a resposta. E, depois desta, o processo de reconstrução, que pode ser longo e penoso para a comunidade afetada. Neste contexto, entra a proposta do apoio psicossocial com base comunitária, por considerar as potencialidades e as forças locais, mesmo depois de um desastre.
Veja os oito princípios básicos do apoio psicossocial de base comunitária
- Princípio 1: Promover os direitos básicos e a dignidade das mulheres, homens, meninas e meninos, sem discriminação, para o bem-estar geral, evitando angústia, medo e dor desnecessários (ex. físico, emocional e espiritual).
- Princípio 2: Incluir considerações sociais e psicológicas em todos os setores de atuação da Aliança ACT (ex. água e saneamento, subsistência, abrigo, saúde e segurança).
- Princípio 3: Construir com base em estratégias de autoajuda comunitárias, promovendo a apropriação e o controle, por parte da comunidade, dos recursos, usando processos participativos de comprometimento e de tomada de decisões.
- Princípio 4: Promover o retorno do funcionamento otimizado das comunidades afetadas e indivíduos através de seus envolvimentos em atividades sociais e encontros nas estruturas locais como escolas, centros comunitários, igrejas, mesquitas e organizações locais.
- Princípio 5: Reconhecer e encorajar a comunidade a acreditar em sua própria capacidade de mudança e garantir seu bem-estar geral, utilizando seus próprios recursos.
- Princípio 6: Promover práticas positivas de curas comunitárias, enfatizando as estruturas de apoio familiares e comunitárias para atender necessidades individuais e coletivas.
- Princípio 7: Atender as necessidades espirituais das pessoas para manter a boa saúde mental e o sentimento de pertença e conexão.
- Princípio 8: Salientar a resiliência e a esperança da comunidade por sua recuperação e sustentabilidade a longo prazo, nutrindo sua capacidade de crescimento.