Para as meninas, cor de rosa, bonecas, panelinhas e o espaço da casa. Para os meninos, azul, carrinhos, bola e brincadeiras fora da casa. “Gênero (lembrando que gênero é diferente de sexo. Sexo é biológico, não escolhido) é uma construção social, um modo de ser educada e educado e um modo de ser percebido como pessoa no mundo”, disse a assessora na área de aconselhamento pastoral feminista Márcia Blasi, que conduziu a palestra sobre Relações de Gênero durante a Assembleia da Fundação Luterana de Diaconia. “Ou seja, não está nos genes. Essas diferenças são socialmente, culturalmente e teologicamente construídas, para definir o que é homem ou mulher em determinado contexto.”
A Assembleia da FLD, que está sendo realizada em São Leopoldo (RS), teve início hoje, dia 21, e segue até sábado, dia 23. O tema relações de gênero foi escolhido como ponto central para introduzir a discussão entre as e os participantes sobre a política de gênero que está sendo elaborada pela FLD. A proposta vem de um grupo integrado pelas mulheres da equipe e mulheres representando parceiros estratégicos da FLD, entre os quais o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), o Conselho de Missão entre Indígenas (Comin) e o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
Política justa de gênero
“Existem políticas de gênero em tudo que fazemos”, afirmou Blasi. “A questão é que elas não são políticas justas. Para que mudanças aconteçam, é preciso intencionalidade. É preciso um querer coletivo, sério, comprometido”. De acordo com o documento provisório sobre Política de Gênero da Federação Luterana Mundial (FLM), “justiça de gênero implica em proteção e promoção da dignidade de mulheres e homens que, criados a imagem de Deus, são corresponsáveis no cuidado da criação. Justiça de gênero se expressa através de relações de poder equilibradas entre homens e mulheres e a eliminação de sistemas de privilégio e opressão interpessoais, institucionais e culturais que sustentam a discriminação”.
E por que construir uma política justa de gênero? “Não podemos nos conformar com a exclusão e a injustiça nas relações entre homens e mulheres”, disse a assessora. É preciso lembrar que uma mulher é agredida a cada cinco segundos. Que a violência contra as mulheres é tida como “normal” – e quando falamos em violência, ela pode ser psicológica, emocional, teológica, física, sexual, patrimonial e institucional. Que, de acordo com dados da ONU, enquanto as mulheres realizam 66% de todo o trabalho mundial e produzem 50% dos alimentos, recebem apenas 10% das receitas/lucros e são donas de 1% das propriedades.
“No entanto, política de gênero não pode ser um remendo para consertar alguns detalhes sem importância ou ser um simples curativo para curar ferimentos visíveis”, alertou Blasi. De acordo com ela, é preciso envolver todo o ser da instituição, desde a composição do seu conselho, a contratação da equipe, sua visão, sua missão, como entende seu papel na sociedade e igreja, suas parcerias, a elaboração e a implementação de projetos, o público alvo e a execução de projetos. Reconhecer que há injustiça de gênero é o primeiro passo. A partir daí, ter vontade política para questionar normas, tradições e costumes que promovem desigualdades entre homens e mulheres. “Para transformar, é preciso questionar, encorajar mudanças, abrir caminhos, pronunciar novas palavras e, sem dúvida, sonhar novos sonhos.”
Programação
A Assembleia da FLD é composta por conselheiras e conselheiros dos 18 sínodos vinculados à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), junto com integrantes natos. Também participam do encontro, como convidadas e convidados, representantes de grupos parceiros da Fundação. Até o sábado, constam da programação a apresentação da Rede de Comércio Justo e Solidário, o pré-lançamento do livro Cataforte – fortalecimento do associativismo e cooperativismo dos catadores de materiais recicláveis, uma análise de conjuntura pelo professor Dr. Emil Albert Sobottka, da PUCRS, além de assuntos institucionais.