As entidades ecumênicas e os organismos abaixo subscritos vêm a público denunciar a omissão e a conivência do Poder Executivo, assim como a parcialidade do Poder Judiciário ao decretar reintegração de posse e fornecer aparato policial e militar para a ação de despejo dos povos Guarani Kaiowá dos tekohá Ñande Ru Marangatu (município de Antônio João) e Guayviry (município de Aral Moreira), no estado do Mato Grosso do Sul.
Ao ordenar a reintegração de posse em desfavor dos referidos povos indígenas de áreas já homologadas, prevista para os dias 21 e 23 de outubro, as autoridades, mais uma vez, se colocam a serviço dos latifundiários e do agronegócio da região, e exaltam o direito de propriedade em detrimento do direito à vida destas comunidades.
Com isso, legitimam a continuidade do genocídio dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul. Nestas duas comunidades houve, pelo menos, quatro assassinatos de lideranças indígenas diretamente relacionados à luta pela terra, travada há mais de 30 anos na região:
- Marçal de Souza, assassinado em 1983
- Durvalino Rocha, assassinado em 2005
- Nizio Gomes, assassinado em 2011
- Simião Vilhalva, assassinado em agosto de 2015, quando tentava proteger seu filho de quatro anos de ataques perpetrados covardemente por fazendeiros.
Tememos que o cumprimento desta ordem judicial leve a mais ataques e mortes de indígenas, a exemplo do que houve em Buriti, quando Oziel Gabriel, do povo Terena, foi assassinado pela polícia, em 2013. O fato mostrou flagrante despreparo das forças de segurança, que violaram manuais que orientam o cumprimento destes tipos de ação. As autoridades deveriam atentar para sua responsabilidade frente a outras consequências que poderão advir das hostilidades, violências e humilhações que estão sendo impostas aos Guarani Kaiowá e outras etnias da região.
Conclamamos as instâncias superiores do poder judiciário a corrigir esta parcialidade mortífera, revogando estas liminares de reintegração de posse, primando pelo diálogo e pela justiça constitucional para os povos indígenas destas comunidades que aguardam há décadas o cumprimento da Constituição Cidadã em defesa de suas vidas.
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC
Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE
Conselho Latino Americano de Igrejas/Brasil – CLAI Brasil
Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI
Rede Ecumênica da Juventude – REJU
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Diaconia
Plataforma de Ação e Diálogo – PAD
Aliança de Batistas do Brasil
Fundação Luterana de Diaconia – FLD
Igreja Presbiteriana Unida – IPU
Caritas Brasileira
Pão Para o Mundo – PPM (Alemanha)
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB