O Mato Grosso do Sul (MS) tem a segunda maior população indígena do Brasil, cerca de 77 mil pessoas, e é palco da maiores e mais graves violações dos direitos humanos no país e no mundo: casos de tortura, estupros, espancamentos, ataques armados e assassinatos praticados por milícias de jagunços e organizações paramilitares contratadas por fazendeiros, além dos altos índices de desnutrição e suicídios. Está em curso um verdadeiro genocídio, especialmente do povo Guarani Kaiowá.
No sentido de denunciar e lutar pelos direitos dos povos indígenas, um grupo de aproximadamente 130 representantes de povos indígenas, de várias regiões do Brasil, lotou o plenário da sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, na manhã desta quinta-feira (22) e lançaoum oficialmente a campanha do “Boicote ao Agronegócio de Mato Grosso do Sul”. Estavam presentes nessa delegação mulheres e homens dos povos Terena, Guarani Kaiowá, Kniknaw, Pataxó, Apurinã e Atikum, entre outros.
Na ocasião, a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, usou a tribuna da sessão e empunhou um dos cartazes da campanha que diz “a carne de Mato Grosso do Sul está manchada com o sangue das crianças indígenas. Não Compre! Não Coma!”.
Em sua fala, Sônia ressaltou que a campanha é mais do que necessária, pois é só quando a questão parte para o lado econômico, quando mexe no bolso dos que detêm o poder do capitalismo, que as coisas começam a funcionar efetivamente. “A nossa campanha é para que organismos internacionais embarguem os produtos do agronegócio de MS até que o governo brasileiro resolva definitivamente esta questão, demarcando e homologando as terras indígenas, indenizando os proprietários das áreas cujos títulos foram adquiridos de boa fé, cessando todos os ataques e atos de violência contra os povos indígenas. É uma campanha pela paz, para que o nosso povo possa ter uma vida mais digna e justa”, afirma.
Outra questão levantada pela liderança foi a situação do genocídio dos povos indígenas no estado e a inversão das prioridades da Casa de Leis. “A impunidade é outro elemento central na perpetuação da violência e do genocídio. Executores de homicídios, de ataques, de casos de tortura e espancamentos, bem como os seus mandantes, raramente são identificados e sequer vão para os bancos dos réus, prevalecendo à impunidade. Se por um lado a impunidade reina para os que massacram os povos indígenas, por outro há uma tentativa de criminalizar as entidades indigenistas e as lideranças indígenas, por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Nós não vamos e nem podemos aceitar essa inversão de prioridades dessa Casa de Leis”, disse.
Além de lançar a campanha, o grupo de indígenas reforçou seu total apoio à CPI do Genocídio, instituída por deputados estaduais para apurar o assassinato de lideranças de várias partes do estado, e pedindo a mobilização contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere do executivo para o Legislativo a atribuição de demarcar terras indígenas, que está sendo votada nesta quinta-feira em Brasília.
A CPI do Genocídio só foi aberta em Mato Grosso do Sul depois de intensa pressão dos movimentos sociais, sindicais, indigenistas e da Igreja contra a comissão parlamentar de inquérito, que investiga o CIMI.
Ato na Assembleia Legislativa
Entoando músicas, as lideranças tomaram conta da frente da Casa de Leis, em uma grande roda, empunhando os cartazes do boicote, realizaram uma reza tradicional e fizeram o lançamento oficial da campanha, prometendo que ela irá rodar o mundo todo, até que a situação de Mato Grosso do Sul seja resolvida.