“Estamos deixando a intolerância passar à nossa frente ou estamos sendo a diferença?” O questionamento de Selenir Corrêa Gonçalves Kronbauer, professora e coordenadora do Grupo Identidade da Faculdades EST, deu início à sua fala no Café com Direitos Étnicos e Raciais, promovido pela FLD no dia 11 de novembro em Porto Alegre (RS).
Também participou do encontro Baba Diba de Iyemonja, Babalorixa do Ile Axé Iyemonja Omi Olodo, presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do RS e coordenador da Renafro-Saúde no RS.
A secretária executiva da FLD, Cibele Kuss, abriu a conversa, referindo-se ao caso de xenofobia contra o haitiano Fetiere Sterlin, 33, assassinado por 10 adolescentes em outubro deste ano, no município de Navegantes (SC).
Outro caso lembrado foi da menina Kailane Campos, apedrejada em junho deste ano na saída de um culto do Candomblé, no Rio de Janeiro (RJ). Kailane tinha apenas 11 anos.
Cibele reforçou as estatísticas alarmantes que saíram no documento do Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil, (disponível em www.mapadaviolencia.org.br e abaixo para download). “Os dados confirmam o aumento do feminicídio, com o forte recorte racial e de classe, fundamentado, entre outros motivos, na estrutura do patriarcado e na cultura da impunidade.”. O mapa também mostra que o número de mortes violentas de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, passando de 1.864, em 2003, para 2.875 em 2013. No mesmo período, a quantidade anual de homicídios de mulheres brancas diminuiu 9,8%, caindo de 1.747, em 2003, para 1.576, em 2013.
Selenir acredita que a mudança precisam começar na Educação. “Precisamos trabalhar para desmistificar o preconceito contra negras e negros afrodescendentes, para que possamos construir uma sociedade diferente. E isso começa na educação, nas escolas”.
De acordo com ela, a Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação identificou graves situações de violação aos direitos humanos, decorrentes da intolerância religiosa, acontecem nas escolas públicas brasileiras, que têm como principais vítimas adeptas e adeptos de religiosidades de matriz afro-brasileira.
Para Baba Diba, a intolerância religiosa é mais do que uma afronta à religião, é uma violência à cultura. “A minha religião veio dos meus ancestrais. Isso faz parte de quem eu sou. Corre no meu sangue.”.
A relatoria constatou ainda que a intolerância religiosa se manifesta em casos de violência física, em humilhações recorrentes e em isolamentos sociais, e deve ser compreendida como parte do fenômeno do racismo.
Além da luta contra o preconceito, Baba Diba reforça que não é apenas tolerância que precisamos, mas sim o respeito às diversidades. “As pessoas são diferentes, tem culturas diferentes e precisam ser respeitadas nas suas diferenças e nas suas individualidades”, “somente lado a lado nós vamos conseguir vencer essa situação de racismo e intolerância religiosa”, complementa.
Em 2015, a FLD promoveu cafés sobre direitos indígenas, direitos de crianças e adolescentes e direitos sexuais e direitos reprodutivos e este, sobre direitos étnicos e raciais.
Faça o download do Mapa da Violência Contra as Mulheres (2015)