Cerca de 200 pessoas, em sua maioria, haitianas e senegalesas, participaram da primeira oficina sobre Fluxos Migratórios, que aconteceu no dia 27 de agosto, no salão da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Lajeado (RS), da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). O evento teve como objetivo debater o tema da imigração na região, além de oferecer informações sobre o processo de imigração no Brasil, legislação, documentação, espaços de apoio e propostas de acolhimento.
Para o pastor vice-sinodal do Sínodo Vale do Taquari, Luis Henrique Sievers, conhecer a cultura, os motivos pelos quais se encontram na região, as suas dificuldades e como manter um relacionamento, foi importante. O encontro buscou contribuir para a compreensão da situação de imigrantes, superar preconceitos e proporcionar crescimento mútuo. “Queríamos diminuir as distâncias entre as pessoas, para que elas superem o isolamento. Dessa forma, mostramos interesse e prestamos solidariedade em momentos difíceis”.
O porta voz da comunidade de haitianos em Lajeado, Renel Simon, afirma que o evento contribuiu para tirar dúvidas ligadas aos processos legais que envolvem pessoas imigrantes no Brasil. Ele conta que, no atual momento, uma das maiores dificuldades para pessoas imigrantes é o desemprego. “Me sinto muito mal vendo elas e eles sem emprego. Meu maior desejo é que consigam ajudar a si mesmos e seus familiares”, diz. “A ideia é que possamos ter mais encontros como esse”.
Causas, consequências e desafios
A secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), pastora Romi Márcia Bencke, falou sobre causas, consequências e desafios dos fluxos migratórios mundiais. “Sinto-me triste em saber que existem pessoas sendo desalojadas, expulsas de suas casas por causa de grandes conflitos ambientais. De repente, são jogadas no mundo e obrigadas a recomeçar a vida numa terra distante da cultura e realidade delas”, disse.
Desafios da acolhida
O assessor de projetos da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Rogério Oliveira de Aguiar, falou sobre os desafios da acolhida de imigrantes e refugiados pelas populações dos países solidários e o papel das comunidades religiosas frente às demandas apresentadas pelo fluxo de imigração atual no Brasil. “Queremos incentivar as comunidades a buscar parcerias junto as organizações da sociedade civil, instituições governamentais e igrejas que atuam na garantia de direitos, para auxiliarem nesse trabalho de acolhida e acompanhamento. A ideia é fomentar uma rede de apoio entre organizações da sociedade civil e redes de assistência no município e na região, e que as pessoas imigrantes possam atuar como protagonistas nesse processo”.
Direitos e deveres
O advogado Alexandre Scherer Neto palestrou sobre os direitos e deveres de pessoas imigrantes e refugiadas diante da legislação brasileira, afirmando que o Governo aceita que imigrantes venham para o Brasil, mas não proporciona condições adequadas. “Nossas antepassadas e nossos antepassados, quando vieram para cá, tiveram acesso à natureza, que lhes proporcionou a sobrevivência. As pessoas que vêm hoje estão inseridas no sistema industrializado e desenvolvimentista, com necessidades que vão além de água e luz, como alimentação, transporte e bens“, diz.
Conforme Neto, brasileiras e brasileiros também se sentem desassistidas pelo poder público, e o que deve-se perceber é que imigrantes não querem tirar nada do país, mas contribuir dentro de uma nova terra. “Não sei se foi falta de compromisso do governo, falta de recursos ou descaso. Sabemos que o povo brasileiro também está enfrentando carências devido a esse momento de crise, por isso esse encontro deve passar uma outra visão.“
A oficina contou com apoio da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), da Rede Ecumênica da Juventude (REJU), do Sínodo Vale do Taquari e da Comunidade Evangélica Luterana de Lajeado/IECLB.
Fotos: Renata Leal