São realmente vastas as áreas do bioma brasileiro chamado de Pampa. Vastas, porém não homogêneas, tampouco monótonas. Região pouco conhecida e pouco compreendida: em cada metro quadrado de campo nativo, de capão de mata, de banhado ou de outros ambientes, a exuberância se manifesta para quem sabe observar e contemplar.
“Nenhuma pessoa é tão indígena que não tenha um pouco de pomerana, tão pomerana que não tenha um pouco de cigana, tão cigana que não tenha um pouco de pescadora artesanal, que não tenha algo de quilombola, de pecuarista familiar, de povo de terreiro, de benzedeira. Todas essas pessoas somos todas e todos nós”, disse Daniel Roberto Soares (Mestre Preto), representante de Povo de Terreiro, no lançamento da publicação Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, ontem, dia 8, em Porto Alegre (RS).
A publicação, que traz depoimentos e informações sobre povos e comunidades tradicionais e sobre a biodiversidade do Pampa, foi elaborada de forma coletiva, a partir do Projeto Pampa, executado pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD), com apoio de Pão para o Mundo (PPM). O processo de elaboração do material contou com a parceria da Articulação Pacari e do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, criado em 2015, no I Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, promovido pela FLD, em Porto Alegre (RS).
Além de mestre Preto, falaram ainda a secretária executiva da FLD, Cibele Kuss, a assessora programática da FLD, Juliana Mazurana, a representante da Articulação Pacari, Lourdes Cardozo Laureano, e outras e outros representantes de comunidades e povos: Amilton Cesar Camargo e Nilo Dias, comunidades quilombolas, Mariglei Dias de Lima, benzedeiras e benzedores; Marcos Sanchez Blanco, pecuaristas familiares; Rosecler Winter, povo cigano; João Carlos Padilha, povos indígenas; Carlos Adriano Leite, pescadoras e pescadores artesanais; e Carmo Thum, povo pomerano.
Nas mensagens, uma palavra apareceu com força: invisibilidade. “No início do projeto, nos demos conta da importância da criação de um comitê, para trabalharmos a questão de a região ser tão desconhecida”, disse Amilton Cesar Camargo. “Uma das primeiras ações organizadas pelo grupo foi o levantamento do que temos em sociobiodiversidade na região. A publicação é um dos resultados desse trabalho, feito a muitas mãos”.
Uma equipe, composta por integrantes do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais, da FLD e da Pacari, percorreu, durante alguns meses, 21 municípios da região, dialogando com centenas de pessoas de comunidades quilombolas, benzedeiras e benzedores, pecuaristas familiares, povo cigano, povos indígenas, pescadoras e pescadores artesanais, povo de terreiro e povo pomerano.
Conforme consta na publicação, “foi a partir da autoafirmação das pessoas e dos grupos envolvidos que se evidenciaram estas oito identidades sociais, sem desconsiderar, no entanto, suas múltiplas identidades: uma única pessoa pode se identificar como mulher, quilombola, pecuarista familiar, benzedeira, parteira, além de agricultora e artesã”.
O livro está disponível aqui para download.