Nos dias 25 a 29 de setembro, em São Paulo, aconteceu o Encontro de Comunicadores/as da Sociedade Civil pela Defesa de Direitos. O objetivo da atividade foi fomentar a articulação do núcleo facilitador de uma rede de comunicadores/as de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) para a defesa de direitos, cujo objetivo essencial é pautar, organizar e disseminar para um público amplo a produção de conteúdos sobre direitos, além de construir e trocar experiências e estratégias inovadoras e eficazes de mobilização social, promover a formação de comunicadores/as sociais, bem como compartilhar ferramentas e boas práticas neste campo político.
Com isso, a articulação pretende divulgar e potencializar a resistência e oposição aos retrocessos no campo dos direitos, contra a criminalização das OSCs e movimentos sociais, em contraposição a um sistema midiático altamente concentrado e conservador. Para Adriana Ramos, membro da Direção Executiva da Abong, “o estímulo a uma rede de comunicadores é uma forma de superar a limitação de trabalho de cada um e trocar experiências fazendo com que a comunicação de cada uma das organizações tenha um alcance maior. Quanto mais conseguirmos trabalhar em rede, mais longe vamos levar nossas mensagens”, defendeu.
Apesar do histórico das organizações da sociedade civis brasileiras em relação ao trabalho que desenvolvem de incidência política, mobilização e controle social das ações dos governos, é uma demanda bem conhecida entre as organizações deste campo a necessidade de ampliar sua capacidade de comunicar amplamente suas atividades e conquistas, as dificuldades que enfrentam e as causas que defendem. Este desafio é reforçado por um sistema midiático altamente concentrado e conservador, que não dá visibilidade às ações e debates do campo e promove uma cobertura tendenciosa, que reflete negativamente sobre a percepção da sociedade e da opinião pública acerca de sua importância para a democracia. De acordo com Elisa Gargiulo, coordenadora de comunicação da Católicas pelo Direito de Decidir – organização de São Paulo –, a mídia tradicional tira a legitimidade das organizações de representarem as pautas de determinados grupos. “O efeito disso é a disseminação da ideia de que a população não deve se engajar ou se articular com as proposições ou projetos das organizações, demonizando o ato de se juntar para fazer política”, ressaltou.
Este grupo de comunicadores/as também entende que as pautas e causas das OSCs só terão ampla visibilidade quando o direito à comunicação for garantido e os meios de comunicação no Brasil forem democratizados. Neste sentido, no entendimento da articulação, este campo tem como missão também fortalecer a comunicação alternativa, independente, livre e pública. A plataforma se compromete a fomentar o trabalho para ampliação do debate sobre a importância do direito à comunicação e da democratização dos meios no Brasil.
A inserção das organizações no ambiente digital para conseguir alertar a população sobre violações de direitos, além de mostrar seu trabalho e atividades, também foi pautada no encontro. De acordo com os/as comunicadores/as, um dos principais desafios das OSCs neste ambiente é a adaptação da linguagem para o público e a criminalização de suas lutas pelos meios de comunicação. Para Nilton Lopes, coordenador de comunicação da CIPÓ – Comunicação Interativa – organização da Bahia –, os principais erros das organizações nas redes sociais, por exemplo, são a baixa produção de conteúdo e a não leitura de público para usar uma linguagem mais adequada. “É preciso deixar um pouco os maniqueísmos de lado, nem tudo que é humor é preconceituoso. Nem todo texto curto na rede social é superficial. Temos que saber transitar em relação a isso, mas claro, sem perder o aprofundamento e a capacidade de usar os termos essenciais”, defendeu.
O evento, bem como a estruturação da Rede, faz parte do projeto Sociedade Civil Construindo a Resistência Democrática, uma parceria da Abong com suas associadas Camp, Cese e Cfemea, financiado pela União Europeia. Faz parte da ação ainda a realização de cursos presenciais e à distância, além de ações de incidência política.
Um dos desdobramentos do encontro será a realização pelas comunicadoras e comunicadores deste grupo de atividades locais em seus respectivos Estados. A iniciativa visa à formação e extensão desta articulação, além da mobilização de participantes para as turmas do curso EaD Comunicação Estratégica e Incidência Política. “O principal encaminhamento foi a consolidação da Rede de Comunicadoras e Comunicadores como estratégia de enfrentamento ao golpe e ao cenário de retrocessos em direitos. Essa consolidação será seguida de novas formações e encontros que terão como objetivo a ampliação e o fortalecimento da Rede”, explicou Masra de Abreu, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).
Nilton e Elisa, que participaram do evento, avaliaram positivamente a troca de experiências entre comunicadores/as e a importância de se unir no atual momento político. “Precisamos ter uma voz única, mesmo com a diversidade das organizações. Acho que isso potencializa a nossa força de ação”, disse Nilton.
Por Felipe Sakamoto, do Observatório da Sociedade Civil, da Abong