As pessoas têm recebido as atividades do projeto Interagir com muita solidariedade e muito respeito
A população LGBT segue uma luta histórica – contra perseguições e contra o medo – lembrada no dia 28 de junho, Dia Internacional do orgulho LGBT. A data está ligada ao episódio ocorrido no ano de 1969, conhecido como a Revolta de Stonewall Inn, quando um grupo de frequentadores reagiu às violentas e constantes batidas policiais naquele estabelecimento. Marca os 49 anos da resistência da comunidade LGBT à violência social, muitas vezes praticada pelo próprio Estado.
Uma das recentes conquistas é a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de retirar, da sua lista de doenças mentais, a transexualidade. A decisão histórica foi anunciada no dia 18 de junho de 2018, 28 anos depois de a organização ter retirado a homossexualidade da categoria de transtornos psicológicos, em 1990.
Quando se trata da garantia de direitos, grande parte da sociedade sofre violências, em razão da etnia, raça, gênero, condição social e sexualidade. E não se pode afirmar a existência de um Estado Democrático de Direito, onde os sujeitos de direitos são privados dos seus direitos. Uma das formas de enfrentamento da intolerância e dos preconceitos é o empoderamento das populações vulneráveis e a promoção do diálogo com a sociedade.
Essa é a proposta do projeto Interagir – Capacitando para o acesso à defesa e a garantia de direitos!, que recebe apoio do Programa de Pequenos Projetos da FLD. A entidade executora, Pró-Vida, com sede em Maceió (AL), atua na promoção dos direitos sociais e civis de LGBTs e de pessoas vivendo com HIV/AIDS, com iniciativas na área de prevenção, testagem e aconselhamento.
A ideia do projeto veio da necessidade de ações de enfrentamento e resistência a manifestações de discriminação e preconceito. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Alagoas é 5º estado brasileiro em termos de violência contra homossexuais, em um país que continua sendo o campeão mundial de crimes homo-lesbo-transfóbicos: segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis, em 2016, foram cometidos no Brasil. O ano de 2017 trouxe dados mais assustadores, a partir do início do processo de notificação de assassinatos de pessoas LGBTs. Os números passaram de 343 mortes em 2016 para 445 mortes em 2017, um aumento de 30% e uma morte a cada 19 horas.
Oficinas, rodas de conversa, debates e exposição de temas como princípios da Democracia e o Estado Democrático de Direito, cidadania e direitos humanos, gênero e “Construção a desconstrução” e Diversidade Sexual compõem o projeto. “Embora estejamos em um momento delicado e vivenciando um retrocesso de direitos, as pessoas têm recebido as nossas atividades com muita solidariedade e respeito”, relatou Dino José de Oliveira Alves, do Pró-Vida. “Inclusive, temos tido o apoio institucional da CUT Alagoas da Central dos Movimentos Populares (CMP), da ONG Metamorfose, do Coletivo Pró-Vida Mulher, do Instituto Raízes de África e do SOHMOS LGBT, que têm participado e contribuído com a troca de ideias e de conhecimento.”
“Minha comunidade agora abre os braços para as diversidades”
Jade Soares é da comunidade quilombola de Santa Luzia do Norte (AL), e conta como se envolveu no projeto Interagir: “fui chamada para mobilizar jovens do município de Santa Luzia do Norte, localizado a 23 quilômetros de Maceió, para participarem das oficinas. A surpresa é que reunimos não apenas jovens, mas pessoas de todas as idades. Foi surpreendente. A comunidade quilombola sempre foi extremamente resistente ao público LGBT, mas nas palestras e nas oficinas se discutiu muito sobre a importância do papel de todas as pessoas na contribuição para uma sociedade justa para todos e todas. Nossa população agora abre os braços para as diversidades. Tenho orgulho de ser uma mulher transexual quilombola e poder contar com o apoio e admiração da minha comunidade”.
“Eu sei que não sou minoria não. Faço parte da sociedade”
Hélio é estudante e mora em Maceió: “vi a grande repercussão do projeto na comunidade Quilombola de Santa Luzia do Norte. Fui até a comunidade e participei das oficinas. Me senti fortalecido, conheço melhor nossos direitos e deveres e também sei que mesmo que muitas pessoas acham que eu sou minoria, pela minha sexualidade, eu sei que não sou minoria não. Sou parte da sociedade. Me comprometi a multiplicar o aprendizado nas oficinas e estou esperando o seminário, para que mais pessoas se comprometam com esse movimento”.