O Programa de Pequenos Projetos (PPP) da FLD promoveu em Porto Alegre (RS) dois encontros sobre Gestão Democrática com Justiça de Gênero, reunindo representantes de coletivos apoiados nos anos de 2017 e 2018. Nos dias 8 e 9, o encontro foi destinado a projetos da área de Direitos, e nos dias 12 e 13, a projetos da área de Justiça Econômica.
O objetivo foi promover o intercâmbio de conhecimento e experiências entre os projetos apoiados, promover a qualificação do PPP, a partir da contribuição dos grupos, e estimular a adoção da justiça de gênero nos espaços de poder e governança das organizações parceiras, considerando a participação e valorização igualitária de mulheres e homens.
No dia 8, houve a apresentação das pessoas participantes, que trouxeram objetos representativos do trabalho realizado. Depois, dividiram-se em grupos para dialogar sobre o contexto; cenários de resistência; forças de coexistência e de confronto; e ações de enfrentamento das violações de direitos.
À tarde, o teólogo Dr. André Musskopf, da Coordenação do Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST, abordou o tema Gênero e Religião, duas questões fundamentais para enfrentar o atual contexto fundamentalista e promover a justiça, os direitos e a democracia. “É preciso pensar nessas duas dimensões a partir de uma perspectiva libertadora, é preciso desfazer preconceitos religiosos de discriminação”.
O dia 9 ficou centrado na importância das ferramentas de gestão para aprofundar/contribuir com os processos democráticos das organizações, considerando a justiça de gênero como elemento fundamental. A coordenadora programática da FLD, Marilu Menezes, apresentou o Projeto-Político-Pedagógico e o conceito de gestão democrática com justiça de gênero que está sendo construído na FLD: processos coletivos de participação efetiva de mulheres e de homens na tomada de decisões estratégicas e cotidianas, na definição de compromissos e de direitos e na construção de saberes e de conhecimentos, promovendo relações de gênero justas e igualitárias, gerando acesso de modo equilibrado a espaços de poder e governança. Após, o grupo foi provocado a refletir sobre o conceito da FLD, e contribuir com sua elaboração a partir do seu cotidiano de atuação.
Nos dias 12 e 13, o encontro reuniu representações de fóruns e redes da Economia Solidária com projetos na área de Justiça Econômica. Na tarde do dia 12, Eliane de Moura Martins, historiadora, doutoranda em sociologia, com experiência em educação popular com ênfase em realidade brasileira, história do Brasil e da América Latina, e militante no movimento de trabalhadoras e trabalhadores por direitos, dialogou com o grande grupo sobre a atual conjuntura. “É necessário se perguntar qual o nosso horizonte estratégico como classe trabalhadora. Forças conservadoras ocuparam postos estratégicos no poder, congelaram gastos em áreas estratégicas, como a educação. A fala liberal é contundente e não estamos fazemos o contraponto”.
No dia 13, Ana Mercedes Sarria Icaza, doutora em Ciências Sociais e integrante do Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa (NEGA) da UFRGS, trouxe um resgate histórico sobre o movimento da Economia Solidária no Brasil, relacionando-o com justiça de gênero. “As mulheres são colocadas frente a uma escolha difícil, quase impossível – ou assumir papéis de liderança, onde precisam atender reuniões e viagens, ou cuidar da família –. Para haver justiça, é preciso romper os preconceitos”.
Ainda na parte de manhã houve o painel de intercâmbio de experiências, com a apresentação da Rede Cearense de Socioeconomia Solidária, da Rede Juvesol – Juventudes e Economia Solidária, do Macrorregional dos Fóruns de Economia Solidária do Centro-Oeste, e do Grupo de Consumo Araçá. As questões salientadas foram metodologias de gestão democrática, processos de participação efetiva das mulheres, o uso de metodologias inovadoras e da tecnologia da informação, e a participação em espaços de controle social e incidência em políticas públicas.
À tarde, os grupos apresentaram quais processos e metodologias de gestão democrática e participação efetiva das mulheres os fóruns e redes utilizam, quais os principais desafios e também expressaram seus compromissos para avançar na gestão democrática e justiça de gênero.
O Programa de Pequenos Projetos apoia iniciativas de coletivos e movimentos sociais, a partir de cinco áreas temáticas: Justiça Econômica, Justiça Socioambiental, Diaconia, Direitos e Ajuda Humanitária, a partir do viés da Gestão Democrática com Justiça de Gênero.