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Escola de assentamento vem se consolidando como escola agroecológica do campo

Escola de assentamento vem se consolidando como escola agroecológica do campo
12 de agosto de 2019 fld

O estudante Iarly Cousen dos Santos Gonçalves explica o Círculo de Bananeiras, que faz o tratamento das águas residuais das pias e tanques (águas cinzas) na Escola Estadual Paulo Freire: “a água vem da máquina de lavar roupa até as bananeiras”.

Durante o período de 2013 a 2018, a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) executou o Projeto Pampa na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, visando implementar e difundir Tecnologias Sociais (TS), além de valorizar saberes tradicionais e boas práticas de manejo dos ecossistemas, fundamentais para mitigação e adaptação as mudanças climáticas. Tecnologia Social é um produto, método ou processo criado para resolver um problema social. Deve ter baixo custo, autonomia construtiva das comunidades, gerar impacto social e atentar para a sustentabilidade. Durante esse período, diversas atividades realizadas pelo Projeto envolveram a Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire (EEEF Paulo Freire), já que a Direção, o corpo docente e a comunidade escolar se mostraram abertos ao tema da Agroecologia e das Tecnologias Sociais.

A escola, localizada no assentamento Santa Maria do Ibicuí, em Manoel Viana, RS, já possuía iniciativas inspiradoras que indicavam a vontade e a necessidade de construção participativa de uma proposta pedagógica diferenciada. Em 2018, a FLD convidou a Amigos da Terra Brasil (ATBr) para assessorar um processo de construção de planos de aula, tendo como referência as tecnologias sociais já implementadas na escola até o momento e aquelas que seriam implementadas ao longo do ano de 2018: círculo de bananeiras, cisterna, fossa ecológica, canal de evapotranspiração, horta e pomar. De acordo com o diretor, Jair dos Santos Nunes, que integra o Coletivo Estadual de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Paulo Freire é uma escola do campo, com uma proposta diferenciada de trabalho, que busca fazer com que as e os estudantes entendam e valorizem o seu meio.

Para a construção dos planos de aula pelo corpo docente, foram realizados quatro encontros de reflexão e troca sobre a realidade escolar, contextos e motivações. As tecnologias sociais localizadas no pátio escolar foram identificadas e ressignificadas, a fim de se tornarem elementos de prática pedagógica. Para cada uma das seis tecnologias sociais foi elaborada um plano de aula pelas professoras e professores Ana Paula de Lima, Cleusa Verlaine Dornelles Ramos, Doralina Martins de Castro, Jair dos Santos Nunes, Katiane Martins, Luciana Carvalho, Marjana Maia, Luíza Maria da Silva Pinheiro, Sânieri Lamberti Aguiar de Matos e Susan Peres Ferreira. A presença de uma tecnologia social no pátio escolar ou na comunidade escolar não garante que esta cumpra sua função pedagógica, sendo fundamental apropriação, reflexão e construção de propostas.

Essa experiência coletiva foi sistematizada na publicação Aprendendo Agroecologia no Pátio da Escola: práticas pedagógicas com Tecnologias Sociais implementadas na EEEF Paulo Freire, disponível aqui para download. A iniciativa também recebeu Certificado de Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil (FBB) em julho de 2019, com o título de Tecnologias sociais como espaços pedagógicos no pátio da escola. Realizado a cada dois anos, o Prêmio da FBB tem por objetivo identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas e eficazes na solução de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde.

A experiência da Paulo Freire também compõe o vídeo “Pampa, memórias e saberes do nosso lugar!” , elaborado pela FLD e pelo Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, com depoimentos de quem vive na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, no bioma Pampa, em assentamentos da reforma agrária, comunidades quilombolas e de pecuaristas familiares.

Para divulgar as iniciativas da EEEF Paulo Freire na interface com as ações promovidas pela FLD, foram realizadas, no dia 11 de julho sessões de projeção do vídeo, de diálogos sobre a publicação e visita às tecnologias sociais. Participaram estudantes, professoras e professores, comunidade escolar, além de representantes do Círculo de Pais e Mestres (CPM), do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da 10ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE).

As iniciativas coletivas da EEEF Paulo Freire certamente são inspiradoras para novos processos semelhantes nesta e em outras Escolas do campo.