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Carta à sociedade: compromisso com a Justiça Socioambiental

Carta à sociedade: compromisso com a Justiça Socioambiental
23 de novembro de 2012 zweiarts

O Seminário Justiça Sociambiental e Mudanças Climáticas: Desafios e Compromissos, que aconteceu durante os dias 20 a 22 de novembro, em São Leopoldo (RS), contou com a presença de cerca de 120 pessoas, de seis estados brasileiros, entre convidados e representantes de mais de 20 instituições que trabalham com a temática. Durante os três dias, foram realizados painéis, palestras e atividades em grupo, provocando a todos e a todas com várias reflexões, refletindo e analisando as razões e alternativas às dificuldades causadas pelas mudanças do clima.

Os e as palestrantes, incluindo o responsável para o Brasil da Ajuda da Igreja Norueguesa, Arne Dale, retrataram contextos históricos e também as problemáticas da atualidade nas temáticas da sustentabilidade, meio ambiente, consumo, mobilização social, agricultura familiar ecológica, valorização da cultura indígena, entre outras.

No final do seminário, foi elaborada e aprovada uma carta com propostas a serem efetivadas em espaços como associações, coletivos e instituições dos mais diversos segmentos – como igrejas, bairros e escolas em geral. 

Douglas Moreira e Joaquim Oliveira Moura (RS), Danuse Queiroz (DF) e Reynaldo de Azevedo (MG), da RENAJOC e da Agência Jovem de Notícias, responsáveis pela cobertura do seminário.

Mensagem Final

São Leopoldo, 22 de novembro de 2012.

A consciência dos problemas ambientais não deve nos paralisar, mas ser um fator de motivação para a ação junto ao seu grupo ou comunidade. (Arno Kayser)

Motivad@s pelo tema “Justiça Socioambiental e Mudanças Climáticas: Desafios e Compromissos”, nos reunimos nos dias 20 a 22 de novembro de 2012 em seminário na Faculdades EST, São Leopoldo/RS. O objetivo do seminário foi refletir o contexto de injustiças e de degradação ambiental e sua relação com a atuação em emergências – especialmente em gestão de riscos, reabilitação e desenvolvimento – a fim de fortalecer boas práticas já em curso, bem como perceber e assumir desafios para a promoção de justiça socioambiental.

Afirmamos que o atual modelo de desenvolvimento baseado na sociedade de consumo e na degradação ambiental está repleto de contradições. Estas contradições são produto do funcionamento normal desse desenvolvimento: a agricultura luta contra a natureza; a medicina luta contra as doenças; a paz é mantida pela guerra; o grande motor da violência está no tráfico de drogas, armas, pessoas, animais e plantas; os movimentos sociais são criminalizados. O valor máximo da liberdade é propiciado pelo consumo, esquecendo a igualdade associada à solidariedade. Superamos a ditadura militar e vivemos hoje a ditadura financeira, que manipula governos, Constituições e sociedades.

Percebemos que há a necessidade de pluralizar o conceito de desenvolvimento e de exercitar novas formas de produção e outros modelos de economia. Práticas exitosas relacionadas à justiça socioambiental e gestão de riscos a partir da sociedade civil confirmam que a vida se sustenta na diversidade, na reciprocidade e na pluralidade. Há várias formas de ser no mundo. No “círculo da vida” estão incluídos os animais e plantas, enfim todos os seres vivos.

A partir da reflexão sobre teologias e (in)justiças socioambientais, que envolvem realidades bem cotidianas e apontam para reflexões sobre os atuais modelos de desenvolvimento, afirmamos que  é preciso falar algo a partir de nós, não algo pronto e imposto. O que queremos ensaiar é a compreensão de Deus, não de maneira metafísica, numa relação de dominação e regência da história e da criação, mas numa relação de comunhão, diversa e plural. E se o símbolo de outros discursos se dá em relações verticais, nós tomamos a ciranda – uma dança circular – como base. Nela estamos humanidade-criação-Deus. Pois, como apreendemos na tradição bíblica, nela existimos e nela nos movemos.

Assim assumimos como nossos compromissos:

  • Garantir e fortalecer o direito das pessoas de participar ativamente dos processos de construção de alternativas de desenvolvimento, através da valorização e fortalecimento de grupos e organizações já existentes, promovendo a ativa participação d@s  ferid@s pelo progresso e a articulação e atuação em redes. Promover a incidência na esfera pública, mediante a capacitação e a articulação, o que inclui participar ativamente na divulgação e na defesa de um Marco Regulatório que seja mais favorável às organizações da sociedade civil.
  • Potencializar as relações de gênero, interculturalidade e ecumenismo na construção da justiça socioambiental, valorizando a sabedoria da cultura popular, suas histórias e religiosidades, reconhecendo o eixo comum  que une localmente o trabalho em prol da Justiça Socioambiental. Dar visibilidade global aos projetos e construções locais, reconhecendo e se apropriando do acumulado de experiências que as instituições possuem na área de gênero, interculturalidade e ecumenismo. Denunciar, em uma articulação ecumênica, o que impera e impede a construção da justiça socioambiental, como a dívida pública.
  • Fortalecer nosso papel na gestão de riscos de desastres identificando as situações de vulnerabilidade e riscos locais, fortalecendo atitudes preventivas e capacitação para equipes de ação, bem como os órgãos como a defesa civil e conselhos municipais. Ressaltamos que identificamos como desastres, além de enchentes, vendavais, secas e queimadas, também o uso de agrotóxicos e acidentes.
  • Articular os espaços de nossas organizações para atuar em conjunto, favorecendo partilhas de experiências e incidência, através de seminários e encontros de troca de experiências, estimulando cursos de formação da base que priorizem como temas transversais, resiliência, reciclagem, relações de gênero e de gerações, sucessão vegetal e social.  Formar redes com ações concretas integradas, fortalecendo as organizações da sociedade civil.

As tarefas são muitas e há espaço para todo o tipo de habilidade ou conhecimento. Só se mexendo é que se descobre qual é o seu papel no processo. (Arno Kayser).

Pelos participantes do Seminário Justiça Socioambiental e Mudanças Climáticas: Desafios e Compromissos

Promotores: Fundação Luterana de Diaconia (FLD), as Faculdades EST, o Conselho de Missão entre Indígenas (Comin), o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e Secretaria Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

Organizações parceiras: Fórum Ecumênico ACT Brasil, Rede Nacional de Adolescente de Jovens Comunicadores e Comunicadoras, CLAI Brasil, Obra Gustavo Adolfo, Rede Ecumênica da Juventude, DIACONIA, KOINONIA, Conselho Nacional da Juventude Evangélica, Ajuda da Igreja da Noruega, Igreja da Suécia, Federação Luterana Mundial, Conselho Mundial de Igrejas, EED.