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Cientistas e movimentos lançam carta proposta por outro modelo agrícola

Cientistas e movimentos lançam carta proposta por outro modelo agrícola
15 de agosto de 2012 zweiarts

Os mais de 300 participantes do Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde do Trabalhador e do Ambiente, realizado nos dias 31 de julho a 1º de agosto na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), produziram uma carta aberta ao final do evento, em que fazem um balanço da atividade – problemas à saúde e ao meio ambiente causados pelo uso dos agrotóxicos na agricultura – e apontam, entre outras providências, a necessidade de investimento público em pesquisas destinadas à produção de alimentos de base agroecológica, a partir da conclusão de que não existem níveis seguros para a utilização de venenos agrícolas nas lavouras.

O Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde do Trabalhador e do Ambiente reuniu profissionais de ciências agrárias e da saúde, técnicos de extensão e assistência técnica, militantes dos movimentos sociais, estudantes de graduação e de escolas técnicas, professores universitários, trabalhadores da Embrapa e de outras instituições de pesquisa extensão e ensino. Além dos aspectos combativos aos agrotóxicos, foram discutidos e propostos outros modelos de desenvolvimento agropecuário, com ética e respeito a todas as formas de vida, possibilitando, sobretudo, a troca de experiências entre a esfera acadêmica e o saber popular (na foto em destaque, da esquerda para direita:  Adão Noguês, presidente do SINPAF Sessão Sindical Embrapa Clima Temperado e presidente do seminário, Patrícia Lovatto, bióloga do CAPA e articuladora da Campanha Contra os Agriotóxicos e pela Vida, Roni Bonow, engenheiro agrônomo do CAPA, e os três agricultores vinculados ao CAPA que apresentaram suas experiências no seminário –  Loro Natal Bosenbecker, da SULECOLÓGICA, Nilo Schiavon, da ARPASUL, e Norma Krumreich, da SULECOLÓGICA.

Além disso, o evento contribuiu para a formação crítica e técnica dos participantes com relação à temática, “Agrotóxico Mata”, proporcionando ainda a integração e articulação entre os participantes. “A atividade é um marco histórico e um exemplo de trabalho conjunto entre SINPAF, Embrapa Clima Temperados e movimentos sociais para debater novos rumos para a pesquisa e extensão voltadas à produção de alimentos saudáveis, com respeito ao ambiente de trabalho e à vida, inaugurando novos espaços livres e democráticos de participação social e de apresentação de demandas desafiadoras para formulação não apenas de pesquisas como de políticas públicas integradas e capazes de promover a vida em vez de atender apenas os interesses econômicos de poucos”, avalia Vinícius Freitas, presidente da seção sindical Hortaliças e integrante da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

O seminário coaduna com o Plano de Lutas do SINPAF, que propõe discutir o modelo de desenvolvimento e a saúde dos trabalhadores da pesquisa agropecuária junto à sociedade.

CARTA DE PELOTAS/RS

Integrantes dos movimentos sociais do campo, empresas públicas de pesquisa, assistência e extensão rural, estudantes e o movimento sindical dos trabalhadores da pesquisa e desenvolvimento agropecuário presentes ao 1º Seminário Regional Sul de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos à Saúde e ao Meio Ambiente, realizado no período de 31 de julho a 1º de agosto de 2012, trocaram experiências e saberes sobre os impactos do uso dos agrotóxicos na saúde dos agricultores, consumidores e trabalhadores da pesquisa e desenvolvimento agropecuário no Brasil.

Sob o ponto de vista dos participantes, as reflexões feitas apontam para a ampliação e o fortalecimento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida nos vários espaços da sociedade.

O debate sobre o uso desses venenos traz à tona a discussão sobre o modelo de desenvolvimento no campo e na cidade que explora e adoece as pessoas, que degrada o meio ambiente, os recursos naturais e as relações sociais.

As reflexões feitas concluíram, centralmente, que não há uso seguro e manejo adequado de agrotóxicos; que é preciso haver mais pesquisas e estudos sobre as doenças por eles causadas; que deve haver mais investimento em políticas públicas que respeitem a vida humana e o ambiente; que a Embrapa deve desenvolver mais pesquisas e ter mais recursos destinados à produção de alimentos de base agroecológica e, por fim, que é preciso articular espaços de reflexão para construção de conceitos e valores que primem pelo bem viver.

Os relatos feitos pelo(a)s agricultore(a)s que produzem alimentos saudáveis em bases agroecológicas mostraram que é possível gerar renda respeitando a natureza e a si mesmos enquanto seres humanos. No decorrer das discussões, verificou-se a necessidade de ampliar a educação contextualizada nas universidades, nos centros de pesquisa e extensão rural, tanto em relação ao uso de venenos quanto sobre a necessidade de libertação reflexiva dos modelos monopolizadores, assim como o uso de alternativas e a perspectiva de pesquisas que ampliem a produção agroecológica – respeitando a ética da vida e não a conformação de novos pacotes que privilegiem apenas o mercado, que deterioram a saúde do trabalhador e da natureza.

Assinalou-se, ainda, a necessidade e a possibilidade técnica e legal de estabelecimento de parcerias junto às secretarias ambientais dos estados para o mapeamento das áreas com produção agroecológica, a fim de protegê-las contra a pulverização aérea. Também foi reforçada a necessidade de ampliação da luta pelo banimento dos agrotóxicos já banidos em outras regiões do mundo e da utilização do dia 3 de dezembro como marco da Campanha, com a realização de atividades em todo o Brasil.

Sugerimos, finalmente, que nos espaços onde seja discutida a temática dos agrotóxicos priorize-se a alimentação ecológica produzida pelos agricultores da região que sedia o evento, e que a espiritualidade componha a programação dos eventos relacionados à Campanha – de forma a valorizar a poesia, a música, as artes, os valores culturais e éticos do(a)s trabalhadore(a)s e agricultore(a)s.

Pelotas, RS, 1º de agosto de 2012, Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário – SINPAF

Assinam a carta:

  • Embrapa Clima Temperado
  • SINPAF/Seção Sindical Pelotas
  • SINPAF/Seção Sindical Bagé
  • SINPAF/Seção Sindical Passo Fundo
  • SINPAF/Seção Sindical Londrina
  • SINPAF/Seção Sindical Florestas
  • SINPAF/Seção Sindical Solos
  • SINPAF/Seção Sindical Hortaliças
  • SINPAF/Seção Sindical Pará
  • SINPAF/Seção Sindical Cruz das Almas
  • Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA
  • Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER
  • Fórum da Agricultura Familiar do Território Zona Sul
  • Setorial de Mulheres do Território Zona Sul
  • Associação dos Produtores Agroecológicos da Região Sul – ARPASUL
  • Cooperativa Sul Ecológica de Agricultores Familiares Ltda – SULECOLÓGICA
  • Cooperativa dos Apicultores e Fruticultores da Zona Sul – CAFSUL
  • Universidade Federal de Pelotas – UFPEL
  • Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA/RS
  • Comitê Nacional da Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida
  •  Comitê Estadual da Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida – RS
  • Rede de Acción ao uso de Plaguicidas y sus Alternativas na América Latina
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA