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Fórum Ecumênico ACT Brasil discute agenda de incidência para o futuro

Fórum Ecumênico ACT Brasil discute agenda de incidência para o futuro
24 de setembro de 2012 zweiarts

A Cúpula dos Povos, evento organizado paralelamente à Conferência da ONU por um Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, em junho deste ano, trouxe uma série de indicações. Entre estas, mostrou que a sociedade civil organizada passa por um novo momento de mobilização, de criação de novas alianças e renascimento de parcerias históricas capazes de sensibilizar a sociedade e pautar políticas públicas. Este foi o diagnóstico oferecido por três representantes de movimentos sociais reunidos num painel promovido pelo Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), do qual a FLD participa, na tarde do dia 24 de setembro, em São Paulo (SP).

O FE ACT Brasil realiza sua reunião anual tendo como um dos principais itens da pauta a busca de consenso em torno de temas de incidência e defesa de causa e passou a ouvir os depoimentos de Tica Moreno, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Daniel Souza, da Rede Ecumênica da Juventude (REJU), e Ademar Ludwig, do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Mulheres

Tica Moreno destacou que o diálogo dos movimentos da sociedade civil, experimentado no processo que levou à Cúpula dos Povos, “revelou uma nova dinâmica de incidência e uma nova geração política que nos possibilitou ter mais clareza em relação à lente através da qual analisamos a conjuntura e estabelecemos nossas estratégias”.

Moreno destacou o tema da divisão sexual do trabalho, que, segundo ela, se expressa no próprio mercado de trabalho  através das diferenças de remuneração entre homens mulheres, “realidade marcada por uma bipolarização onde há, de um lado, poucas mulheres bem remuneradas em posições de liderança, e, do outro, uma multidão de mulheres em funções menores com remuneração ainda menor do que a de seus pares homens com as mesmas responsabilidades”, afirmou.

O esforço atual da MMM, segundo ela, é tentar  descobrir em que medida as relações entre homens e mulheres “são parte do sistema capitalista, machista e patriarcal onde vivemos”.

“Analisamos a base material da opressão sobre as mulheres, que legitima a violência contra as mulheres em todos os níveis através da divisão sexual do trabalho”, continuou. “Vivemos uma realidade na qual as mulheres precisam conciliar atividades profissionais e domésticas, pois não existe partilha igualitária de responsabilidades com os homens. Além disso, existe hoje, no Brasil, cerca de 7 milhões de empregadas domésticas que fazem parte desta massa que compõe uma realidade desigual. “A nossa busca por justiça passa pela  luta por igualdade e partilha de responsabilidades entre homens em mulheres, pois a diferença abissal entre as horas gastas por mulheres e homens nas tarefas domesticas é um escândalo.”

Moreno ainda destacou a abordagem que o MMM deu à luta contra a mercantilização da vida,  uma das bandeiras da Cúpula dos Povos. Para ela, os processos e estruturas em que vidas humanas e a natureza são reduzidas a meras mercadorias levou o movimento a elaborar uma critica contundente ao modelo de economia verde. “Um dos pontos centrais de nossa atuação depois da Cúpula dos Povos tem sido o enfretamento da realidade da mercantilização neste modelo de desenvolvimento em voga que prioriza a exploração de territórios, dos recursos naturais e dos corpos das mulheres”, afirmou.

O exemplo utilizado por Moreno foi o do aumento da prostituição em áreas onde grandes obras de engenharia são implementados. “As mulheres são usadas para amortecer os impactos gerais deste modelo desenvolvimentista. A sociedade por sua vez, já nâo reage mais e parece seguir a lógica dos governos e empresas que banalizaram a exploração sexual das mulheres”, concluiu.

Jovens

Daniel Souza, coordenador nacional da REJU, por sua vez, afirmou que a prioridade atual da rede é formar uma juventude que assuma seu papel na sociedade,” que seja protagonista e capaz de pautar políticas publicas e conceitos de desenvolvimento”.

Souza partilhou dados atuais sobre os jovens brasileiros. Segundo ele, 6,5 milhões de jovens não tem trabalho e apenas 12% frequentam universidades. Daqueles que têm emprego, 66% não tem carteira assinada e recebem pouco mais que a metade do que recebem os adultos nas mesmas funções. A violência contra jovens também foi destacada quando Souza informou que 50% dos homicídios em 2010 foram de jovens, dos quais 75% eram negros e pobres.

Segundo o coordenador, experiências como a Cúpula dos Povos servem de laboratório de novas metodologias. Ele destacou o papel do setorial ecumênico e inter-religioso do evento, dizendo que “Religiões por Direitos proporcionou espaço de articulação e diálogo com outros movimentos. Lá, aprendemos que incidência política é feita em redes, e que a costura de novas parcerias é um aspecto essencial em todas as nossas estratégias atuais”, ponderou.

Souza ainda destacou outro impasse na luta atual da juventude brasileira: “Os grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, tem causado grandes entraves na aprovação do estatuto da juventude, pois a questão da meia entrada em eventos toca diretamente os que querem lucrar com estes mesmo eventos”, assinalou.

Trabalhadores rurais sem terra

Ademar Ludwig, do MST, destacou o novo momento das relações na sociedade civil apontando a importância da criação de novas alianças estratégicas. Ele também partilhou sua análise de conjuntura nacional. “Há três grandes projetos em disputa no país.  O primeiro é puxado pelo governo do PT, com suas iniciativas desenvolvimentistas e políticas compensatórias que não resolvem os problemas estruturais do país. O segundo projeto é da direita, liderada pelo PSDB e pelo Democratas, que nunca saíram de cena, continuam dominando diversos níveis da sociedade e não se conformam com a perda momentânea do timão político nacional. Finalmente, o terceiro projeto é o da sociedade civil, das organizações sociais que tentam discutir modelos alternativos, construindo redes de cooperação”, frisou.

O painel foi parte importante do exercício do FE ACT Brasil, formado por organismos ecumênicos, agências de apoio a projetos de desenvolvimento, igrejas, conselhos de igrejas e organizações parceiras, para estabelecer o seu planejamento para os próximos dois anos.

Para Rafael Soares de Oliveira, secretário executivo de KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço, os depoimentos de Moreno, Souza e Ludwig “estão em sintonia com a conjuntura mais ampla com a qual estamos dialogando há muito tempo”.

Os três painelistas enfatizaram a necessidade de mobilização e sensibilização da sociedade. “É impossível avançarmos ne defesa de causas sem formarmos e fortalecermos alianças”, enfatizou Eliana Rolemberg, diretora executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), moderadora do painel.

A reunião anual do FE ACT Brasil encerra no dia 26, com debates sobre o novo marco regulatório que consolidará a relação das Organizações da Sociedade Civil com o Estado.

Embora exista desde o início da década passada, o FE ACT Brasil, desde 2010, é reconhecido como o fórum nacional de ACT Aliança. ACT reúne mais de 100 organizações de ajuda humanitária que atuam nas áreas de emergência, apoio a desenvolvimento e defesa de causas, estando presente em mais de 125 países, com 30 mil funcionários que implementam projetos que movem cerca de USD 1.3 bilhão em recursos oriundos de igrejas, organismos ecumênicos, fundos públicos e campanhas pontuais. Saiba mais em: www.actalliance.or

Texto e fotos: Marcelo Schneider

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