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Lei que restringe uso de venenos na agricultura completa 30 anos mais atual do que nunca

Lei que restringe uso de venenos na agricultura completa 30 anos mais atual do que nunca
4 de dezembro de 2012 zweiarts

Fepam levará ao Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conama, em Brasília, a proposta de utilizar a Lei estadual 7.747/82 como modelo para que ocorra a atualização da lei federal

No dia 3, segunda-feira, em Porto Alegre (RS),aconteceu a Audiência Pública sobre a Lei dos Agrotóxicos. O movimentos socioambiental, que integra a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, lotou o plenarinho da Assembleia Legislativa. A audiência foi proposta pelo presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (OCERGS), Virgilio Peres. A sugestão foi aceita pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, presidida pelo deputado Ernani Polo (PP). (Obs. A FLD e o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor participam da Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida).

A pressão exercida pela OCERGS e associações ligadas aos fabricantes de venenos para flexibilizar a Lei estadual 7.747/82 se deve ao Artigo 1º § 2º, o qual determina que “Só serão admitidos, em território estadual, a distribuição e comercialização de produtos agrotóxicos e biocidas já registrados no órgão federal competente e que, se resultantes de importação, tenham uso autorizado no país de origem”. Pois, a certificação de origem não está presente na lei federal.

Peres defendeu que, por o Rio Grande do Sul consumir alimentos produzidos em outros Estados com o uso de agrotóxicos desautorizados em solo gaúcho, a Lei dos Agrotóxicos deve ser alterada. “É preciso buscar uma compatibilização entre a nossa lei e a lei federal porque o produtor gaúcho está sendo prejudicado, em outros Estados é permitido o uso de produtos mais eficazes,” disse.

Ao contrário do argumentado por Peres e os representantes das empresas, além de alguns deputados, a lei gaúcha não é inconstitucional porque a matéria de meio ambiente pode ser legislada de maneira autônoma pelos Estados, e pode ser mais restritiva quando for em defesa da saúde pública. Mas a questão veio à tona porque as cooperativas e entidades citadas avaliam que a competitividade dos produtores gaúchos está sendo prejudicada.

Segundo Carlos Fernando, que é diretor-presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler, a Fepam, a Lei dos Agrotóxicos é atual, vanguardista e não necessita ser alterada. “Entre 2005 e 2011, o Centro de Informações Toxicológicas do Estado, o CIT/RS, registrou 167 intoxicações por paraquate, sendo que destes, 35 resultaram em óbito, somente aqui no Rio Grande do Sul. Não existe antídoto para o paraquate e a nossa legislação deve ser mantida exatamente como está e deve até ser espalhada para os outros Estados porque ela previne contra esses absurdos”, afirmou, lembrando o agrotóxico que teve o registro indeferido pela Fepam em setembro deste ano.

A Audiência Pública aconteceu justo no dia 03 de dezembro, o Dia Internacional do Não Uso de Agrotóxicos. A fala da maioria das entidades inscritas defendeu a manutenção da lei na sua totalidade e, como resolução, a atualização da lei federal, para que também proíba a importação de agrotóxicos que não obtiveram o registro em seus países de origem.

Estiveram presentes na Assembleia integrantes da comissão que elaborou a lei na década de 80, como Sebastião Pinheiro. Para Ana Walls, conselheira da Agapan, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, a lei deve ser mantida porque ainda necessita ser realmente aplicada. A efetiva aplicação da lei só vai acontecer quando houver investimento conscientização e na fiscalização. Para ela, flexibilizar o uso dos venenos aumentaria os gastos com a saúde pública.

Os representantes da Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) e da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV), que comercializam agrotóxicos, defenderam a chamada inconsistência do Artigo 1º § 2º da Lei dos Agrotóxicos e foram vaiados pela maioria dos participantes da Audiência Pública.

Carlos Fernando, da Fepam, se comprometeu a levar para o Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conama, em Brasília, a proposta de utilizar a lei gaúcha como modelo para que ocorra a atualização da lei federal.

O deputado Adão Villaverde (PT) sugeriu que, a partir de 2013, sejam realizadas campanhas de divulgação e promoção da Lei dos Agrotóxicos, já que vai entrar na sua quarta década em vigor no Rio Grande do Sul.

Segundo o deputado que convocou a audiência, Ernani Polo, será feito um relato final do encontro na próxima reunião da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia. Este relato será apresentado no aniversário da Lei 7.747 que será comemorado na Feira dos Agricultores Ecologistas, FAE, no sábado, próximo dia 22, integrando a Festa de Equinócio. A FAE acontece na primeira quadra da avenida José Bonifácio, em Porto Alegre, aos sábados de manhã.

Por Anelise De Carli, especial para a EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais