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Frei Betto: “Uma das causas da crise na atualidade é a falta de utopia”

Frei Betto: “Uma das causas da crise na atualidade é a falta de utopia”
16 de setembro de 2014 zweiarts

Entre os dias 8 a 12 de setembro, várias conferências, mesas temáticas, oficinas e palestras ocuparam os espaços da Faculdades EST, no Congresso Internacional da Faculdades Est – Religião, Mídia e Cultura, em São Leopoldo (RS). Foi uma semana em que o conhecimento transbordou e, certamente, tocou a todos que, por algum momento, passaram pelo campus. 

A FLD esteve presente através da participação de uma mesa temática, apresentação de trabalho, lançamento de uma publicação, espaço da Rede de Comércio Justo e Solidário e exposição de fotos do projeto Catadoras e Catadores em Rede (na foto) – vinculado ao projeto de mesmo nome, coordenado pela FLD com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental.

Para o coordenador do evento, Prof. Dr. Júlio C. Adam, o congresso foi um sucesso, com mais de 400 participantes. Sobre a temática que permeou as atividades, ele observou que a midiatização parece ter “abocanhado a religião e a cultura”, o que deixa pouco espaço para alternativas, segundo ele. “Isso nos arranca até o senso de historicidade, de espacialidade, de corporeidade”, disse.

Para o Prof. Dr. Oneide Bobsin, reitor da Faculdades EST, o congresso revela a alma da EST e o encontro dela consigo mesma. “Mostramos que somos capazes de nos superarmos juntos com tantas vozes distintas, distantes, convergentes e divergentes. Como o Espírito indomável, também as religiões não se deixam prender pelos discursos das ciências humanas, na qual situamos a teologia. Isto é bom porque nos inquieta. Como a fé, a religião não se deixa transformar em objeto. Quando as enredemos em nossas metodologias científicas, elas já se ausentaram. Isso nos torna metodologicamente humildes, e é o que nos faz ser bem sucedidos”, disse.

Comunicação e a quebra da historicidade

Uma das falas mais aguardadas foi a de Frei Betto, que palestrou na quinta-feira, dia 11 de setembro, sobre Comunicação imagética e a quebra da historicidade. Frei Betto afirmou que um dos motivos da crise vivenciada pela humanidade é a quebra das grandes narrativas, o que pode estar relacionado com a falta de utopia das novas gerações. “A pergunta que devemos fazer é: ‘que fé é essa, que não questiona?'”, indicando a atual dificuldade de visualizar uma historicidade. “É preciso criticar o hoje para projetar o futuro”, alertou, salientando que os processos libertários foram movidos por gerações que tinham consciência histórica.

O conferencista também ressaltou que cada determinada época é definida por um paradigma. “Na Idade Média era a religião, na Idade Moderna a ciência e a tecnologia, na Pós-Modernidade, por enquanto, podemos dizer que é o mercado”, disse ele. Também foi enfático ao dizer que os recursos tecnológicos, como internet, redes sociais e outros meios, fazem parte de uma estratégia de alienação. “Essa tecnologia promove a evasão da privacidade, pois as pessoas se expõem como mercadorias”, assinalou.

O palestrante resgatou o período no qual cursou a faculdade de Jornalismo, nos anos 60. “Naquela época, diziam que a mídia era o quarto poder. Hoje tenho certeza de que ela é o primeiro poder. Pelo seu alcance, pelo poder de formação de hábitos de consumo na opinião pública, rege a maneira de pensar do maior número de pessoas no mundo. Ainda mais nesse mundo capitalista neoliberal onde fica mais difícil a formação da consciência crítica”, assinalou.

Para Frei Betto, a mídia é responsável pelos modismos, por isso, segundo ele, é necessário discutir a questão da redemocratização da mídia. “Sem uma mídia que possa dar voz aos oprimidos, que possa expressar opiniões alternativas, nós estaremos aceitando uma ditadura midiática, que está visceralmente associada ao grande capital”.

A imposição é generalizada. “Não temos um processo de globalização, nós temos um processo de ‘globocolonização’, com a imposição de um modelo de sociedade que é o modelo capitalista neoliberal. Isso não é globalização. Seria se outros modelos ou outras culturas emergissem no cenário da mídia e isso não ocorre”, alertou. Mas, apesar do cenário obscuro que ele apresenta, Frei Betto acredita que o capitalismo será revertido por causa das contradições que ele mesmo carrega. “Não é um processo fácil ou imediato. Mas tenho esperança de que estamos plantando a semente de um modelo alternativo baseado na solidariedade e não na competitividade”, finalizou.

Participação da FLD

A FLD esteve presente no congresso da Faculdades EST através da participação de uma mesa temática, apresentação de trabalho, lançamento de uma publicação, espaço da Rede de Comércio Justo e Solidário e exposição de fotos do projeto Catadoras e Catadores em Rede – vinculado ao projeto de mesmo nome, coordenado pela FLD com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental.

Na terça-feira pela manhã foram montadas as tendas que abrigaram as editoras, empreendimentos da área da alimentação e artesanato de São Leopoldo. A Rede de Comercio Justo e Solidário da FLD também contou com espaço para mostra e comercialização de produtos.

O assessor técnico da FLD, Rogério de Oliveira Aguiar, falou, no dia 10 de setembro, na mesa temática Cultura, Religião e Gênero – Violências e Resistências, junto com a Profª. Maria del Socorro Albas (Pontifice Universidad Javeriana de Bogotá) e a Profª. Sandra Duarte (Universidade Metodista de São Paulo – UMESP). Rogério apresentou a exposição Nem tão doce lar como uma metodologia diaconal de superação da violência doméstica e familiar. “Mais que uma exposição, a NTDL apresenta-se como uma forma de resistência à violência sexista, fundamentada em um modelo patriarcal de sociedade que potencializa a violência de gênero, especialmente no âmbito doméstico”.

No dia 11, quinta-feira, a assessora de projetos, Angelique van Zeeland, apresentou, durante o Seminário Temático sobre a Contribuição das Instituições Diaconais para os Processos de ampliação da Democracia Moderna, o trabalho Economia solidária, diaconia e desenvolvimento transformador: diálogos em construção  – tema da publicação lançada à noite. A assessora abordou a importância do apoio solidário a pequenos projetos, concentrando a análise em práticas transformadoras de instituições diaconais que atuam na área da Economia Solidária.

Texto:Jornalistas Mariana Bastian Tramontini/Faculdades EST e Susanne Buchweitz/FLD