Por Jaime C. Patias
Uma celebração ecumênica com destaque para a unidade na diversidade, concluiu, no dia 24, as atividades do Simpósio Ecumenismo e Missão – Testemunho cristão em um mundo plural. Promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), com apoio das Comissões para o Ecumenismo, Laicato e Ação Missionária da CNBB e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), o evento reuniu cerca de 100 representantes de diversas igrejas cristãs, em Vargem Grande Paulista (SP). A FLD participou, através de sua secretária executiva, Cibele Kuss.
Cânticos, orações, reflexões e símbolos reforçaram a necessidade de continuar a caminhada histórica do ecumenismo no Brasil com ações comuns. Ao comentar o mandato de Jesus aos seus discípulos, “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”, dom Francisco de Assis da Silva, bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil observou que o envio não é apenas ir e anunciar. “Trata-se de um ir ao encontro do mundo de forma desarmada, de braços abertos com o coração cheio de amor que vem de Deus. Significa correr riscos e enfrentar os desafios da pluralidade, do diferente, das cosmovisões, cultura, ciência, entre outros”. Segundo o bispo, é preciso “encarnar-se nessa realidade e anunciar. E anúncio, mais do que discurso, é envolvimento”. Dom Francisco lembrou ainda as palavras de São Francisco de Assis: “primeiro vivo e depois, se necessário, prego”. E finalizou: “Anunciar significa envolver-se, correr o doce risco de encontrar a diferença e a beleza da pluralidade”.
Presente na celebração, o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida (SP), sublinhou a unidade em Jesus Cristo como o melhor testemunho. “Somos todos batizados e o batismo nos incorpora em Jesus Cristo. Temos essa missão de testemunhar Jesus no mundo diante de tantos desafios. Não podemos desanimar, pois Cristo caminha conosco e o Espírito Santo nos ilumina e guia. Em nossas diferenças temos essa missão comum”, disse o cardeal. Em sua opinião, a divisão entre os cristãos é um grande obstáculo. “Para que o mundo creia é necessário que nos amemos uns aos outros e testemunhemos a nossa unidade em nossas diferenças. Esse movimento de ecumenismo é irreversível e nós devemos fortalecê-lo cada vez mais”, argumentou. Ele recordou ainda, as várias iniciativas ecumênicas como a Campanha da Fraternidade e a Semana de Oração pela Unidade.
Líderes se revezaram para pedir unidade em torno de questões comuns. “No projeto de Jesus ninguém é excluído. É preciso que nos coloquemos no lugar de cada pessoa oprimida, pois sabemos a gravidade da desigualdade em nossa sociedade, em especial das mulheres violentadas”, reivindicou a reverenda Elineide Ferreira Oliveira, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. “Devemos sair daqui mais sensibilizados com a causa do nosso próximo na pluralidade e na busca de justiça e igualdade”.
Marilza José Lopes Schuina, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) pediu que os leigos e leigas fossem sujeitos eclesiais atuantes. “Quando Jesus dá ordens, Ele não as dá aos homens ou às mulheres isoladamente, mas a todos”, defendeu. “Neste Simpósio e em outros contextos, ouvimos que as mulheres estão saindo silenciosamente de nossas igrejas. Mas também é verdade que a maioria de nossas comunidades é mantida através do serviço pastoral das mulheres. Elas não estão nos púlpitos, nas sacristias, mas nos serviços para talvez cumprir um preceito daquela que disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor’”, comentou Marilza. Segundo ela, “estar a serviço é se ‘empoderar’ para dizer o que somos e o que podemos fazer. Precisamos contribuir para que as mulheres não sejam apenas testemunhas, mas presença efetiva na comunidade e na sociedade. Ainda somos extremamente machistas”, ponderou a presidente.
Estava previsto que as várias reflexões do Simpósio resultassem numa espécie de Documento com orientações sobre o diálogo ecumênico nas diversas igrejas cristãs. Ao perceber que isso já não seria possível, uma comissão de redação reuniu as contribuições vindas dos grupos de trabalho e durante a celebração as entregou à pastora Romi Bencke, secretária executiva do Conic. Após sistematização, o documento será apresentado na próxima assembleia da entidade, em abril de 2015.
“Tanto o papa Francisco quanto o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) têm reforçado a ideia de uma Igreja peregrina. Acho que essa construção coletiva que fizemos ao longo destes dias está nessa lógica. Queríamos formalizar um Documento hoje, mas o Espírito de Deus é livre e sopra onde, como e quando quer. E soprou para que a gente não assinasse nada, mas dessa continuidade ao processo”, explicou a secretária e complementou. “Pedimos que as contribuições sejam colocadas em oração para que, a partir de agora, o processo se fortaleça”.
Na programação do Simpósio, as conferências, debates e partilhas trouxeram reflexões e apontaram alternativas para enfrentar os desafios da missão em um contexto de pluralismo religioso e de multiplicidade de sujeitos.
A motivação para a realização do evento partiu do contexto de comemorações dos 50 anos da Conferência do Nordeste (1962) e do Concílio Vaticano II (1962-1965). Estes dois momentos históricos foram refletidos à luz do documento “Testemunho Cristão em um mundo Plural”, elaborado a partir de um processo de reflexão que envolveu o CMI, o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e a Aliança Evangélica Mundial.