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Indígenas lançam campanha do Boicote ao Agronegócio em ato no Mato Grosso do Sul

Indígenas lançam campanha do Boicote ao Agronegócio em ato no Mato Grosso do Sul
22 de outubro de 2015 zweiarts

O Mato Grosso do Sul (MS) tem a segunda maior população indígena do Brasil, cerca de 77 mil pessoas, e é palco da maiores e mais graves violações dos direitos humanos no país e no mundo: casos de tortura, estupros, espancamentos, ataques armados e  assassinatos praticados por milícias de jagunços e organizações paramilitares contratadas por fazendeiros, além dos altos índices de desnutrição e suicídios. Está em curso um verdadeiro genocídio, especialmente do povo Guarani Kaiowá.

No sentido de denunciar e lutar pelos direitos dos povos indígenas, um grupo de aproximadamente 130 representantes de povos indígenas, de várias regiões do Brasil, lotou o plenário da sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, na manhã desta quinta-feira (22) e lançaoum oficialmente a campanha do “Boicote ao Agronegócio de Mato Grosso do Sul”.  Estavam presentes nessa delegação mulheres e homens dos povos Terena, Guarani Kaiowá, Kniknaw, Pataxó, Apurinã e Atikum, entre outros.

Na ocasião, a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, usou a tribuna da sessão e empunhou um dos cartazes da campanha que diz “a carne de Mato  Grosso do Sul está manchada com o sangue das crianças indígenas. Não Compre! Não Coma!”.

Em sua fala, Sônia ressaltou que a campanha é mais do que necessária, pois é só quando a questão parte para o lado econômico, quando mexe no bolso dos que detêm o poder do capitalismo, que as coisas começam a funcionar efetivamente. “A nossa campanha é para que organismos internacionais embarguem os produtos do agronegócio de MS até que o governo brasileiro resolva definitivamente esta questão, demarcando e homologando as terras indígenas, indenizando os proprietários das áreas cujos títulos foram adquiridos de boa fé, cessando todos os ataques e atos de violência contra os povos indígenas. É uma campanha pela paz, para que o nosso povo possa ter uma vida mais digna e justa”, afirma.

Outra questão levantada pela liderança foi a situação do genocídio dos povos indígenas no estado e a inversão das prioridades da Casa de Leis. “A impunidade é outro elemento central na perpetuação da violência e do genocídio.  Executores de homicídios, de ataques, de casos de tortura e espancamentos, bem como os seus mandantes, raramente são identificados e sequer vão para os bancos dos réus, prevalecendo à impunidade. Se por um lado a impunidade reina para os que massacram os povos indígenas, por outro há uma tentativa de criminalizar as entidades indigenistas e as lideranças indígenas, por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Nós não vamos e nem podemos aceitar essa inversão de prioridades dessa Casa de Leis”, disse.

Além de lançar a campanha, o grupo de indígenas reforçou seu total apoio à CPI do Genocídio, instituída por deputados estaduais para apurar o assassinato de lideranças de várias partes do estado, e pedindo a mobilização contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere do executivo para o Legislativo a atribuição de demarcar terras indígenas, que está sendo votada nesta quinta-feira em Brasília.

A CPI do Genocídio só foi aberta em Mato Grosso do Sul depois de intensa pressão dos movimentos sociais, sindicais, indigenistas e da Igreja contra a comissão parlamentar de inquérito, que investiga o CIMI.

Ato na Assembleia Legislativa

Entoando músicas, as lideranças tomaram conta da frente da Casa de Leis, em uma grande roda, empunhando os cartazes do boicote, realizaram uma reza tradicional e fizeram o lançamento oficial da campanha, prometendo que ela irá rodar o mundo todo, até que a situação de Mato Grosso do Sul seja resolvida.