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Rede Ecovida: jovens e mulheres e o crescente interesse pelo sistema de vida agroecológico

Rede Ecovida: jovens e mulheres e o crescente interesse pelo sistema de vida agroecológico
1 de maio de 2017 zweiarts

Seminário Mulheres construindo a agroecologia foi um espaço para provocar reflexões sobre o posicionamento da mulher no trabalho agroecológico

A décima edição do Encontro Ampliado da Rede Ecovida, no Parque da Associação Comercial, Cultural e Industrial de Erexim (RS), dias 21, 22 e 23 de abril de 2017, confirmou três tendências já sinalizadas em 2015, no encontro de Marechal Cândido Rondon, no Paraná, em 2015: o crescente interesse dos jovens pelo estilo de vida agroecológico, a importância das mulheres na agroecologia e o trabalho da rede como referência para organizações de outros países.

Em dois dias e meio, mais de 1,5 mil representantes dos 29 núcleos regionais da Rede Ecovida compartilharam conhecimentos nas 30 oficinas e seis seminários relacionados à produção, certificação e comercialização de alimentos orgânicos, ameaças às sementes crioulas, agroflorestas, frutas nativas e outras temáticas. Em todas as atividades, era visível a presença numerosa de jovens. “A mobilização desde o início do ano foi para trazer bastante jovens e eu notei que isso aconteceu mesmo, que tem bastante a participação da juventude. Todo mundo reunido, desde a feirinha, a plenária, o almoço, em tudo a juventude está marcando presença”, avaliou a estudante de Agronomia e agricultora Gabriela Martins, da Associação dos Colonos Ecologistas da Região de Torres (Acert), de Três Passos (RS), comunidade de Morrinhos do Sul. 

Presença de jovens indica vontade de optar pelo meio rural

“Esse espaço é importante, a gente se sente mais motivado, vê realmente como as coisas acontecem, as pessoas trabalhando em equipe. Isso motiva a gente cada vez mais”, destacou o colega de Gabriela, Joaquim Martins, do grupo Acertem, da comunidade João 23, município de Torres (RS). A agricultora Patrícia Martins, da Acert Três Passos, classificou o encontro como uma injeção de incentivo, de entusiasmo, “dá mais vontade de querer produzir outras coisas, de entrar mais nesse meio”. 

De acordo com a mestre em Desenvolvimento Rural Anelise Becker Vieira, “a maioria dos jovens que participaram do Seminário Juventude e Agroecologia têm intenção de trabalhar com na propriedade e a agroecologia pra eles é uma das formas de ficar no meio rural”. O agricultor e técnico agrícola Natan Fernandes, que faz parte da Acert Raposa, Três Cachoeiras (RS), é um dos jovens que optou trabalhar com agroecologia. “Alguns dizem que é uma alternativa diferente de viver, uma filosofia de vida, onde tu quebra uma rotina de trabalho. Tu faz aquilo porque tu gosta, não faz porque tem que fazer”, ponderou, sobre o aumento do número de jovens no evento e que querem permanecer ou voltar para o campo.

Mulheres valorizam as atividades

Assim como a juventude, as mulheres foram também uma presença marcante no evento. “Conversando com outras mulheres de Santa Catarina, elas também acharam que há maior participação”, disse Adriana Bellé, de Três Cachoeiras. A professora e secretária da Cooperativa Econativa participou do seminário Mulheres construindo a agroecologia, e, de acordo com as discussões da atividade, “elas devem participar ainda mais, porque dão impulso maior, dentro do grupo, das associações, elas que puxam os homens pra poder entrar na agroecologia”, relatou Adriana.

A professora e agricultora Inês Gonçalves participou da oficina sobre Plantas alimentícias não convencionais (Pancs) e do seminário de Comercialização para Segurança Alimentar e Nutricional, mas o que mais gostou foi o convívio entre pessoas com ideiais muito parecidos. Inês destacou a aproximação da Rede Ecovida com o Movimento Slow Food Brasil -responsável pelos almoços e jantares do evento -, e os 57 representantes de organizações da América Latina e Caribe, de projetos apoiados pela Inter-American Foundation (IAF).

Todas essas organizações trabalham de alguma forma em assuntos agroecológicos em seus países, ou estão muito interessadas em iniciar algo parecido a este movimento. “Digo algo parecido, porque este é enorme”, salientou a especialista em Relações Públicas da IAF, Edith Bermudez. A IAF apoia projetos de inclusão na América Latina e Caribe ligados à educação, cultura e agricultura. Segundo Edith, 40% destes projetos têm alguma relação com agroecologia.

O que é o Encontro Ampliado

Realizado pela primeira vez em 1999 em Lages (SC), o encontro ampliado representa um grande momento para as famílias agricultoras, técnicos, ONGs de assessoria técnica, consumidores, acadêmicos, pessoas e instituições interessados em temas como produção e comercialização sustentável de alimentos, soberania alimentar e certificação orgânica. 

Do Núcleo Litoral Solidário, o foram representantes de 13 grupos de agricultura ecológica de Osório, Maquiné, Santo Antônio da Patrulha, Três Forquilhas, Três Cachoeiras, Morrinhos do Sul e Torres, além das ONGs de assessoria técnica Ação Nascente Maquiné (Anama) e Centro Ecológico, das cooperativas de consumidores e da cooperativa de produtores Econativa. (Texto e foto: Centro Ecológico)

CAPA

O CAPA/Núcleo Erexim foi uma das organizações que participaram da organização do encontro. Para a coordenadora Ingrid Giesel, foi uma grande alegria sediar o encontro: “vimos e sentimos o interesse das pessoas na agroecologia, a valorização e troca de experiências e de saberes e a importância da segurança e soberania alimentar e nutricional. A participação foi intensa”.