Não é de hoje a coragem de Maria de Castro Fernandes Moraes, 87 anos, que nasceu e vive, com filhas, filhos, netas e netos, na Comunidade Quilombola Rincão dos Fernandes, em Uruguaiana (RS). As terras onde hoje é o quilombo faziam parte da estância Olhos D’Água. Em 1857, duas famílias escravizadas, os Fernandes, obtiveram o direito a uma área de terra.
Maria fazia parte da família Fernandes e recebeu, por meio de herança, um pedaço da terra. As condições nunca foram fáceis. “Ninguém olhava para o lugar, vivíamos na pobreza total”, relatou Vanda de Castro Moraes, uma das filhas. Apesar das dificuldades, Maria permaneceu no quilombo. Só saiu de lá para trabalhar. Nas estâncias, cozinhava, lavava, passava, cuidava da casa toda. Também trabalhou em uma hospedaria. Naquela época, ia e vinha do quilombo para a cidade. “Minha mãe já estava muito velhinha para cuidar das crianças”, contou Maria. “Fiquei um ano e meio assim, vai e vem, vai e vem todos os dias”.
As famílias moravam em casas de barro. “Meu marido fazia, o meu pai fazia, meu irmãos faziam, porque não tinha outros meios, era casa de barro”, lembrou ela. “O fogão era fogo no chão, às vezes colocava ali para aquecer, melhorou um pouco a vida aí compramos um fogãozinho à lenha. Eu criava a gurizada toda com mingauzinho, café quando tinha, bolacha não era sempre que tinha”.
O quilombo foi certificado pela Fundação Cultural Palmares em dezembro de 2010. Atualmente, a Associação Quilombola Rincão dos Fernandes, por meio da sua presidenta Vanda de Castro Moraes, está buscando políticas públicas às quais tem direito.
A luta pelo direito de existir e permanecer no território segue. “Já tentaram me tirar daqui”, contou dona Maria. “Eu não queria sair de jeito nenhum. Não tive medo, nem agora.”
Relação das comunidades quilombolas com a terra
Atualmente, o Programa de Pequenos Projetos (PPP) da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) apoia o projeto de diversificação da produção agrícola da comunidade, que valoriza a relação das comunidades quilombolas com a terra.
A proposta é promover, no espaço de 10 hectares da comunidade, a produção de hortaliças e frutas, resgatando e adaptando saberes e técnicas da agricultura quilombola.
Foto: Projeto Pampa