Rosimar Karo Arara, Luiza Karo Arara, Alzira Karo Arara e o cacique Firmino Karo Arara, apresentando a publicação no IV Encontro Nacional de Agroecologia, ocorrido entre 31 de maio e 3 de junho, em Belo Horizonte (MG)
Não é só um livro de receitas. Histórias sobre a origem dos alimentos, os feitios dos roçados, agora e antigamente, as restrições alimentares durante o resguardo, a relação muito próxima com Totó New, que anda pela cozinha preparando macaloba (chicha) e se deixa revelar, estão relatadas.
O livro Alimentação Karo Arara: Saberes e Práticas Karo at Wirikanã: mabexépkanã, disponibilizado no endereço http://comin.org.br/publicacoes/interna/id/106, foi desenvolvido por mulheres, homens, idosos, crianças e jovens das aldeias Iterap e Paygap, da Terra Indígena Igarapé Lourdes, no município de Ji- Paraná (RO). Organizado pelo Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), em parceria com o Departamento de Educação Intercultural da Universidade Federal de Rondônia (Deinter/UNIR) e apoiado por Pão Para o Mundo – Áustria –, revela o povo Karo Arara por meio das práticas da alimentação e sua lida com os roçados: fazer roças é a garantia da continuidade da vida e do mundo.
Os Karo Arara foram quase dizimados, desde a época do contato (1940) até a década de 1980. Assim, sentem–se orgulhosos de terem vencido os desafios desta história e, como forma de continuidade da sua vida e da sua cultura, trazem suas experiências nas relações e entrelaçamentos com as pessoas, com Totó New (o Deus dos Karo Arara) e com o meio ambiente.
“A origem dos alimentos, os feitios dos roçados, agora e antigamente, as restrições alimentares durante o resguardo, a relação muito próxima com Totó New, que anda pela cozinha preparando macaloba (chicha) e se deixa revelar, estão relatadas aqui”, disse a assessora de Projetos do COMIN, Jandira Keppi.
A produção do livro durou quase dois anos, para acompanhar os momentos de cada estação (verão, outono, inverno e primavera). As receitas, anotadas inicialmente em português, foram produzidas coletivamente, por meio de encontros ou oficinas de alimentação ou individualmente – “quando eu estava passando por uma casa e a mulher estava fazendo alguma comida tradicional, me chamava para fazer os registros”, conta Jandira. Houve todo um coletivo de mulheres envolvido com esse projeto. Decidiu-se dar autoria das receitas às 14 mulheres que estão no livro, mas o envolvimento de mulheres e homens foi mais amplo.
Por fim, os professores e professoras Karo Arara decidiram traduzi-lo para a língua materna, a fim de ser usado em sala de aula, mais para o exercício da escrita e da leitura na língua mãe, já que possuem pouco material didático específico.
SOBRE O POVO Karo Arara
A sua população é composta de 366 pessoas, distribuídas em três aldeias principais. (dados SESAI junho de 2017).
A língua: A língua materna é do tronco linguístico Tupi, família Ramarama, sendo estes os únicos representantes desta família linguística no Brasil.
Componentes da alimentação: Os alimentos são aqueles vindos da roça, da caça, da pesca e da coleta na floresta. Na roça, os principais são: os milhos branco, roxo e amarelo, batata-doce, cará, mandioca. Caça: jacaré, porcão, tatu, paca, entres outros. Coleta na mata: castanha do Brasil, gongo, folha da sororoca que é parte importante para assados na brasa. Os Karo Arara não usam nenhum tipo de agrotóxico nos seus roçados.
Fonte: www.comin.org.br