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Iniciativa esteve na região entre os dias 12 e 17 de setembro
Águas Formosas
A primeira parada da Jornada foi no município de Águas Formosas (MG), no âmbito do Sínodo Sudeste. As atividades iniciaram no dia 12, com uma formação para acolhedoras e acolhedores, e encerraram no dia 13, com a exposição itinerante e interativa montada na Praça Minas Gerais. O espaço, que traz a réplica de uma casa com sinais e pistas que ajudam a identificar sinais de violência, recebeu estudantes, com idades entre 15 e 18 anos de escolas públicas e particulares, e pessoas usuárias da APAE e de ONGs regionais. Por se tratar se uma cidade polo da região, a localização do evento abrangeu e impactou diferentes municípios do Vale do Mucuri.
A oficina realizada na sede do CREAS Regional Mucuri contou com a participação de aproximadamente 40 profissionais da rede de proteção e defesa de direitos de municípios da região. Para Brenda Rocha Santos, coordenadora do CREAS, o momento possibilitou reflexão e trocas de experiências, contribuindo para a qualificação das redes locais.
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“A didática proposta pela iniciativa é totalmente diferente do que é visto nas oficinas normalmente efetuadas pela rede. É um lugar de superação de estigmas, o que proporciona liberdade às pessoas que participam”, comenta.
Outro aspecto que chamou a atenção da advogada foi a capacidade lúdica da metodologia na abordagem do tema. “Foi surpreendente! As pessoas captavam os detalhes rapidamente e entendiam o objetivo. Espero termos essa experiência mais vezes”, complementa Brenda.
Segundo Victor Sales, psicólogo que integra a equipe do CREAS Regional, a metodologia permitiu uma abordagem ampla, alcançando diferentes públicos. “Ela contribuiu para que o tema fosse trabalhado com crianças, mulheres, homens, pessoas idosas, lideranças religiosas e estudantes. Por ter um aspecto lúdico, favoreceu uma maior abertura e acessibilidade com foco nos aspectos sutis da violência”, afirma.
A socióloga Letícia Viana Salomão afirma que a iniciativa conseguiu mobilizar diferentes segmentos, equipes e instituições. “As discussões feitas nesse encontro não se limitaram a tipificar violências explícitas praticadas contra as mulheres, mas ampliou-se na direção das violências implícitas. Nesse sentido, a transfobia também foi colocada em pauta. Sobre o processo de acolhimento, foi um momento ímpar”, conta.
Teófilo Otoni
O segundo município visitado foi Teófilo Otoni (MG), onde a Jornada esteve entre os dias 15 e 17 de setembro. As atividades foram concentradas nas dependências da Associação Educacional Evangélica Luterana – AEEL (Internato Rural), que integra a Rede de Diaconia da IECLB e é ligada à Comunidade Evangélica de Teófilo Otoni (CETO). Cerca de 60 profissionais que integram a rede socioassistencial do município estiveram presentes na oficina de formação de acolhedoras e acolhedores, realizada no dia 15. A intensa programação contou com visitação à exposição e apresentação de estudante de música da AEEL nos intervalos.
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Grace Falconi Kriebel, coordenadora de projetos sociais da AEEL, comemorou o resultado do trabalho coletivo que possibilitou a realização de ações que não estavam previstas. “A FLD, juntamente com a AEEL e em parceria com o Instituto Sustentabilidade e CRDH Mucuri, trouxe mais de 20 instituições que atuam na proteção e defesa dos diretos de criança, adolescentes e mulheres. Tivemos visitas de escolas, entidades sociais, grupos de pessoas idosas e pessoas com deficiência. Houve atendimentos individualizados com apoio de profissionais e participação do Conselho Tutelar”, comenta.
A equipe do CRDH Mucuri, organização da sociedade civil ligada à Associação de Bairros de Teófilo Otoni (ABTO), esteve envolvida no processo de articulação e organização do evento. Para o grupo, a presença da Nem Tão Doce Lar na região vai ao encontro de uma demanda apresentada por um contexto social, econômico e político de violações de diretos das mulheres.
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“Destacamos a importância da metodologia “Nem Tão Doce Lar” no processo de sensibilização e fortalecimento na articulação das redes de enfrentamento, uma vez que essa propõe a formação dos profissionais atuantes em rede. Ademais, durante a visitação nos municípios (Águas Formosas e Teófilo Otoni) foi possível perceber o quanto os elementos simbólicos da exposição impactaram e emocionaram o público, até mesmo evidenciando casos para acompanhamentos da rede”, afirma a equipe em mensagem compartilhada com a FLD.
Andressa Suzane, teóloga luterana e colaboradora do Instituto Sustentabilidade América Latina e Caribe, afirma que a violência doméstica ainda é tratada como tabu. “Não se fala sobre o assunto, principalmente em casa. Por isso, as escolas são lugares essenciais para a sensibilização e a conscientização para a denúncia. É preciso falar sobre o tema, é preciso saber identificar os sinais, é preciso denunciar e romper o ciclo da violência”, enfatiza.
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Durante as visitações à exposição, os grupos participaram de rodas de diálogo com acolhedoras e acolhedores que participaram da oficina de formação. O livreto Nem Tão Doce Lar – Uma vida sem violência é um direito humano foi entregue a educadoras e educadores para que seja utilizado como subsídio nas formações sobre o tema dentro das escolas, – conforme previsto na Lei 14.164/21. Tal decreto altera a Lei 9.394/96 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para incluir conteúdo sobre a prevenção da violência contra a mulher nos currículos da educação básica e instituir a Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher, a ser celebrada todos os anos no mês de março.
Para Cris Mattos, coordenadora da Casa da Mulher, a programação alcançou o seu objetivo de sensibilizar e incentivar denúncias. “O mais forte nesse projeto é perceber os olhares que cada pessoa tem na visitação da casa. Ela é gatilho para traumas, mas também é reflexão e sinal de alerta. Enquanto Casa da Mulher, nos sentimos muito gratas por participar desse projeto e, principalmente, por percebermos como é importante o papel de cada serviço no atendimento e no enfrentamento da violência doméstica”, conclui.
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A Jornada Nem Tão Doce Lar no Vale do Mucuri começou a ser articulada em 2019 quando a exposição estava de passagem pela região durante a Campanha de 21 Dias de Ativismo pelo Fim do Racismo e da Violência contra as Mulheres. A parceria entre a AEEL e a FLD possibilitou o diálogo com outras organizações que atuam na rede socioassistencial na região, permitindo um retorno da exposição abrangendo mais municípios e instituições.
As atividades realizadas no ano de 2022 contam com o apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) através do Fundo de trabalho com vítimas de violência doméstica, constituído a partir do plano de ofertas nacional.
A Jornada também foi destaque na imprensa local. Confira matéria produzida pela TV Leste: