A pandemia da Covid-19 agravou a fome e o desemprego no país. Por isso, a Fundação Luterana de Diaconia (FLD), o Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN) e o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) estão, desde março, atuando por meio de ações de ajuda humanitária para promover segurança alimentar e sanitária para milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade.
A iniciativa de enfrentamento à pandemia, que conta com recursos próprios e com apoio de organizações parceiras, já beneficiou 2.811 famílias por meio da entrega de 4.985 cestas com alimentos perecíveis, não-perecíveis e panificados, provenientes da agricultura familiar e agroecológica, e kits de higiene, proteção e limpeza, produzidos por empreendimentos da economia solidária.
Todo esse volume de entregas realizadas até aqui foi possível a partir de projetos apoiados por Pão para o Mundo e por ELCA (Igreja Evangélica Luterana na América) e por meio de parcerias com a Fundação Banco do Brasil (FBB), com o Sínodo do Rio Paraná da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil), com a Juventude Rural da Baviera, com a Aliança ACT, com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE). E também contou com o apoio de famílias agriculturas, cooperativas e associações em cada uma das regiões onde as entregas foram feitas. O Programa de Pequenos Projetos da FLD está apoiando, até o momento, 15 ações de ajuda humanitária desenvolvidas por movimentos sociais, organizações comunitárias e comitês locais no Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Santa Catarina e Paraná.
Como o contexto ainda permanece muito grave, a FLD-COMIN-CAPA lançaram, no dia 17 de julho – data em que a FLD celebrou seus 20 anos – a campanha Cesta Consciente. O objetivo é engajar pessoas, instituições e comunidades para apoiar as ações de ajuda humanitária junto às famílias profundamente afetadas pelos efeitos sociais e econômicos provocados pela pandemia. Também busca contribuir com a sustentabilidade de cooperativas da agricultura familiar, assessoradas pelo CAPA, da reforma agrária, e de empreendimentos econômicos solidários, integrantes da Rede de Comércio Justo e Solidário ou presentes nos territórios de atuação de CAPA e COMIN. Grupos estes que tiveram cerca de 70% da sua comercialização afetada em razão da pandemia e da forte estiagem que atingiu a região nos últimos meses.
“Com essa pandemia, a gente teve bastante travada as nossas vendas. Então esses projetos das cestas são muito importantes”, afirma Clécio Weber, agricultor familiar da ECOVALE, de Venâncio Aires (RS), acompanhado pelo CAPA Santa Cruz.
Dentre os produtos que compõem as cestas estão máscaras de proteção, alimentos como arroz, feijão, farinha, açúcar mascavo, mel, pão, tubérculos, hortaliças, frutas e ovos. Já os itens de limpeza incluem sabão em barra e desinfetantes ecológicos e biodegradáveis.
Assim que montadas, elas são entregues às famílias pelas equipes, que seguem os protocolos de segurança sanitária para reduzir os riscos de propagação da Covid-19. São beneficiadas catadoras e catadores de materiais recicláveis, comunidades indígenas e kilombolas, famílias acampadas e assentadas da reforma agrária, povo cigano e empreendimentos da economia solidária.
Gilberto Benitez, acadêmico de história e vice-cacique da aldeia Tekoha Pohã Renda, em Guaíra (PR), agradeceu em nome do povo Avá-Guarani. “Nesse momento, quero agradecer a quem apoiou essa iniciativa pra que esses alimentos chegassem até nós e pedimos que continuem nos apoiando. Vamos à luta e já, já venceremos essa doença. Com certeza, juntas e juntos somos fortes”.
Famílias trabalhadoras de Empreendimentos Econômicos Solidários do Vale dos Sinos também receberam as cestas com alimentos agroecológicos. Ana Rejane Dias Celistre, da Associação de Artesãos da Feitoria (AAF), de São Leopoldo (RS), conta que, ao receber as cestas, não precisam comprar alimentos e, com isso, conseguem pagar água e luz. “Muita gente do nosso grupo tem famílias que precisam muito mesmo”. Luis Fábio Tavares Soares, também da AAF, vê o apoio como positivo. “Tem famílias com necessidade no nosso meio e essas cestas são muito importante para podermos nos manter durante a pandemia”.
Luis Fabiano Tavares Soares, Mirela Cecilia Soares, Ana Rejane Dias Celistre e Sueli Angelita da Silva, da Associação dos Artesãos da Feitoria, e Scheila Brito, da FLD (São Leopoldo/RS)
Para a Pastora Cibele Kuss, secretária executiva da FLD-COMIN-CAPA, é um encontro que movimenta a solidariedade e a economia popular. “A FLD, o COMIN e o CAPA têm décadas de experiência trabalhando com grupos e pessoas afetadas por violações de direitos e desigualdades. O apoio de pessoas doadoras solidárias é essencial para aumentar a capacidade de ajuda humanitária que vem sendo realizada durante a pandemia.
Famílias beneficiadas falam da importância da ação
Uma das famílias que recebeu a Cesta foi da Cláudia Pereira dos Santos, da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Rio Pardo (RS) (COCAMARP). “Essas cestas básicas, para nós, significam muito. Significam o sustento das nossas famílias com alimentação de qualidade”. Segundo ela, as cestas estão contribuindo no mantimento de cerca de 50 pessoas das 15 famílias que trabalham na cooperativa. “São nossas filhas, nossos filhos, companheiras e companheiros.”
Na família de Nataniele Leite Pizzi, do Assentamento Santa Maria do Ibicuí, em Manoel Viana (RS), três pessoas foram beneficiadas. “Nesse tempo de pandemia, é de uma grande solidariedade que outros assentamentos, com produtos naturais da terra, possam ajudar pessoas que precisam.”
Nataniele Leite Pizzi, do Assentamento Santa Maria do Ibicuí, em Manoel Viana (RS)
A Associação Comunitária Kilombola Jacinta Souza, de Rio Pardo (RS), recebeu 42 cestas básicas com produtos agroecológicos e produto de limpeza. O cenário vivido pelas comunidades permanece difícil. Um dos principais impactos é a falta de renda. Segundo Joelita David Bitencourt, liderança da comunidade, as famílias sobrevivem da agricultura de subsistência e de empregos informais na cidade. “Trabalho ainda está complicado. Só tem as firmas de fumo para contratar.”
Entre os povos indígenas, o avanço do coronavírus é crescente. Além do contágio, a pandemia também traz diversos agravantes, entre eles a insegurança alimentar das comunidades, principalmente daquelas em que a produção de alimentos é precária ou insuficiente. Segundo Ilson Soares, cacique na aldeia Tekoha Y’Hovy, a situação de vulnerabilidade já existia antes da pandemia, mas agora foi agravada. “Estamos num território que ainda não é demarcado. Então, as dificuldades são maiores. Há falta de assistência do Estado e sofremos preconceito das pessoas da cidade”.
União para realizar a ajuda humanitária
Você também pode colaborar. Faça a sua doação e ajude mais pessoas a terem acesso a segurança alimentar e a contribuir na sustentabilidade de cooperativas da agricultura familiar e de empreendimentos econômicos solidários.
Acesse: https://doe.fld.com.br